E o sol se afoga no mar com todo seu esplendor, mesclando os tons de rubros e dourados em pleno final de tarde. O sol afaga o mar dando-lhe o calor intenso de sua grandeza estelar. O mar intensamente azul e sibilante sussurando segredos longíquos daqueles que fingimos esquecer. Há tanto inconsciência na paisagem, os pássaros, as nuvens com seus formatos enigmáticos. Pessoas, pensamentos e afetos se cruzam num crochet complexo e linear.
Abrir a janela é trazer alguma libertação para coisas tão represadas em nós. É colorido o silêncio com sons circundantes, gritos, gemidos, música e cheiros alheios. Talvez a janela seja um resgate tardio de humanidade e oxigênio. Por vezes, esse mundo nos asfixa. Por vezes, as convenções, as regras, a etiqueta e mísera forma de fazer tudo politicamente correto, nos atam e nos chicoteiam.
Não se pode ter a liberdade de não gostar de algo. Não é permitido gostar de apreciar a solitude e a paz intríseca de momentos gris. Nem preto e nem branco, apenas cinzentos, em tons e semitons. Sem futilidades, sem subterfúgios e apenas ser honesta como as crianças. Ser simples e trivial. Parece que tudo tem a obrigação inexorável de ser complexo, sofisticado e inatingível. Arre... Pessoa tinha razão, onde há gente no mundo? Por vezes, tenho a sincera impressão de atravessar um deserto de almas, sem nehuma compaixão para me consolar.