Olhando para aquelas paredes, detidamente. Vendo cada detalhe. As cenas que elas já presenciaram vinham novamente a memória. Na cozinha o mármore rosa com nesgas verdes, me faziam até sentir o cheiro dos almoços... A fritura da carne, o amassar dos alhos, o corte miúdo das cebolas... A dedicação intensa e exaustiva para uma alimentação saudável e apetitosa. As paredes eram um cenário que eu desejava esquecer. Podia até ouvir vozes, impropérios grasnados na hora do ódio e da mágoa. A casa era minha mas eu não conseguia morar lá... na presença daquelas paredes ainda ostentando a mesma cor original, um tom rosáceo poético e anêmico. As paredes me olhavam como se fossem a Monalisa de Da Vinci, de forma enigmática e silenciosa... Decifrar a dor incrustada naquelas paredes era demais para mim. Tanto que abdicara de morar naquela casa... As paredes denunciavam tanta dor e, eu fugia com olhos marejados. E chorar pelo passado, parecia-me um desperdício.