Era quase amor. Seus olhos brandos contemplando minha face. A minha escrita. E, de repente, a sua mão na minha mão. Tépida e segura. Como a de um guia numa trilha acidentada e perigosa.
Sua calma era budista. E sua voz era um mantra que ia fonetizando a paz. Tudo perdia toda a urgência. Tudo perdia a intensidade e a angústia. Quando nos aproximamos do mar, os arrulhos das ondas nos contavam sobre continentes distantes. De navegantes sonhadores.E o infinito era tão palpável. E, as nuvens se cumprimentavam até que a chuva fina entranhava-se na cena. Silenciosa, miúda e úmida. O brilho do céu ficava apagadiço e sua mão na minha mão revelava os segredos de artesãos e mágicos. Sua narrativa tinha um poder de diluir todos os embaraços. E as tramas e os dramas e conflitos se deslindavam, com provérbios e com sabedoria líquida e tangente. O arco da inteligência era incolor e insípido
Era quase amor. Um afeto profundo, almas que se tocavam e se reverenciavam. E confidenciavam o quão difícil é sobreviver. O quão duro pode ser o solo e a mágoa ancorada no peito. Perdão não consigo dar e nem me perdoar também. Por haver errado e malgrado tantas vezes. Mas, é preciso prosseguir. O caminho não cessa, a vida prossegue por outras águas. Tanto nas tépidas como nas gélidas.
Nas enigmáticas e clarividentes águas quando se pode ver a vida além da vida e, depois da vida. Como um sinal, assim como um brasão de família, cuja maior nobreza é perceber a iniquidade e a importância de valores verdadeiros. E reconhecer humildemente ser a ínfima parte de um quase amor.