Há certos lugares que as paredes falam com a gente. E, até sussurram. Narram cenas familiares, diálogos rebuscados e silêncios profundos. Na casa de minha avó, havia uma parede dedicada aos retratos. Tinha meu avô, os pais dele, e tantos outras parentes que por coincidência estavam todos falecidos. No fundo, eu achava tudo muito lúgubre. Mas, entendia as razões de ter tais fotografias sempre à vista. Pois certamente, o tempo de ausência poderia propiciar o esquecimento. Quando minha avó faleceu, começamos a retirar os retratos daquela parede. E, o engraçado é que por estarem lá por tanto tempo, havia uma sombra, uma demarcação evidente do formato de cada quadro. Assim, parecia que as almas ficaram registradas na parede, e continuavam a escrever uma história contemplativa e familiar. Na minha família, um traço fisionômico é comum, o nariz adunco. Além, naturalmente, de ser uma família nitidamente matriarcal.No fundo, achava curioso esse traço familiar, tendo em vista que vivemos numa sociedade patriarcal e, até certo ponto, misógina. Enfim, aquela parede parecia ser reveladora e servia para ser contemplada. Por vezes, na procura de identidades, em verdade, queremos nos aproximar e melhor entender o estilo de cada um.