Eu me apaixonei por sua aparência blasè e um certo ar filosófico e enigmático. No fundo, parecia que você ironizava todas as pessoas a sua volta, inclusive a mim mesma. Egocêntrico, vaidoso e, indefectivelmente charmoso. Você diante de debates ásperos, ousava recitar Fernando Pessoa, e por vezes, até Luís de Camões.
E, então, Inês era morta! A pobre Inês de Castro que era nobre galega e rainha póstuma de Portugal, e amada pelo futuro rei Dom Pedro I, de quem teve quatro filhos. Mas, fora executado por ordem, do rei Dom Afonso IV. Enfim, mais um caso de amor impossível. A diferença que Inês existiu realmente, e viveu afetos com D. Pedro em pleno século XIV.
O príncipe era casado com Constança que por sua vez, era princesa de Castela, através de um acordo político bem frugal naquela época. Porém, Inês era somente a dama de companhia de Constança e travou um secreto romance com o príncipe por muitos anos, tanto que chegaram a ter quatro filhos.
Sabemos que o adultério é uma longeva prática entre nobres e reis e rainhas. É certo também conforme atestam notórios historiadores que o dito romance jamais contou com o aval de Dom Afonso IV, o rei, e muito menos, do clero que eram os fiadores da avença firmada entre Castela e Portugal. Mas, logo após ao óbito de Constança, a dita relação tornou-se mais íntiam e visível, e a nobreza passou a temer que um dos filhos de Inês viesse a reivindicar o trono.
Sob o temor de um bastardo vir a se tornar rei de Portugal, em 1355, no auge da tensão entre os envolvidos, D. Afonso IV aproveitou-se da ausência de D. Pedro I que saira para caçar, e então ordenou a morte de Inês. Cortaram-lhe a garganta e, finalmente, ceifaram-lhe a vida. Quando regressara da caçada, já em direção à cidade do Porto, D. Pedro I ao saber da execução de Inês de Castro, o príncipe pretendia até enfrentar o pai, mas fora demovido por sua mãe, D. Beatriz e, também por seu primo, o Bispo de Braga.
Então,no auge da resignação teria dito a famosa frase: Agora, Inês é morta. E, finalmente, quando o príncipe tornara-se rei, mandou prender os executores de Inês. Pacheco escapou para a França, porém, Coelho e Gonçalves foram capturados em Castela e, depois, torturados na presença do rei. Conta-se que ambos tiveram o coração arrancado a machadadas.
No entanto, o desfecho mais macabro, foi quando o rei alegando que havia às escondidas casado com Inês, fez com que esta fosse coroada rainha. Então, seu corpo fora desenterrado e colocado no trono.
E, durante pomposa cerimônia, D. Pedro teria ordenado que toda nobreza portuguesa e também membros do clero ajoelhassem diante do cadáver e, ainda, beijassem os ossos da mão de Inês. Era a rainha-cadáver.
Minha paixão por você, era como se fosse por um cadáver. Pois jamais poderia tê-lo de novo, porque as razões eram mais fortes que as emoções. E as emoções também fenecem. Por vezes, cortam-lhe a garganta, e não ganham palavras e, por vezes, arrancam o coração, e então, não alcançam sentido.