Sua poesia manchava as folhas
E o lirismo deixava nódoas
no papel pretensamente branco
Seu lenço ainda úmido de lágrimas
Dores pretéritas que escorreram
Gostaria tanto saber perdoar
Ultrapassar a mágoa
Sair do bunker
Mas nos acomodamos
Nos curvamos à ditadura do medo.
Ao mantra diário de resistir.
De sobreviver.
De arrancar leite das pedras.
e esperanças do horizonte vazio.
Eu parti.
Fui embora.
Tranquei a porta.
E, passei a chave por debaixo da porta.
Tão simbólico
Trancar e partir.
Meio século já se faz.
Pisamos na lua.
Mas não dominamos a Terra.
Estamos a devastando.
Lenta e cruelmente.
As florestas fenecem.
As faunas desaparecem.
E ficam os desertos
como marcos definitivos,
da impropriedade humana.
A poesia escorria pela parede
mental e as palavras se tornavam
paradoxos diante do silêncio
expressivo e mágico.
Poderia elencar tudo que me
fizeram partir.
Poderia falar-lhe de ser prematura.
Dos sete meses que levei para aportar
aqui.
Mas, nada substituirá a minha futura
e contínua ausência.
Deixo-lhe como legado as reticências
e a sensação vã de que tudo valeu
a pena.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/07/2019
Alterado em 15/08/2019