Ela abriu delicadamente a gaveta. Removeu todos os papéis, arrumou os lápis, as canetas, a borracha. Depois...viu a velha fotografia, já fosca, mas ainda trazia aquela pessoa impressa, com olhos faiscantes e ternos. Em sua crase, havia nesgas de lirismo e gotas sobressaltentes. Tanto tempo se passou. Pessoas morreram. Mas, a mágoa prevaleceu. E, parece inédita. Agora vendo bem de perto de onde você partiu, o seu mundinho feudal, repleto de fossos e dragões nada encantados. Como poderia eu, mudar-lhe o destino? No fundo, tudo era uma comédia de erros e equívocos. Esse corte seccionou não só o coração, mas as esperanças. Eu juro que desejava lhe fazer feliz. Mas, tanta coisa atrapalhou, enviesou e, finalmente, atravessou. E, uma voz interior clamava baixinho: - Tenta de novo! E a cada insistência, a dor aumentava. A frustração esbofeteava a gente e, nas manhãs, eu acordava cabisbaixa. Resignada com uma vida que não quis. E, chorando disfarçadamente. Pois afinal, fui vítima das minhas próprias escolhas. Coloquei de volta no fundo da gaveta, a fotografia. Fechei a gaveta. Tranquei-a e joguei a chave fora. Na tentativa vã, de ao menos consertar o presente. Como se eu pudesse controlar completamente a memória e saudade dos momentos bons.