Estava noutra dimensão.
Não havia limites.
Não havia dentro e nem fora.
Só o infinito e
as reticências bailarinas
sobre o horizonte.
Germinei numa placenta humana
Fui expulsa pela natureza
Nasci. Chorei.
Cresci e tropecei muito.
Até aprender a andar
E, a escolher os caminhos.
Em alguns caminhos,
me perdi.
Em outros, me encontrei.
Hesitei muitas vezes.
Escolhi palavras.
Escolhi labirintos.
Escolhi medos e incertezas.
Tive consciência.
Tive culpa.
Tive alma e corpo.
E. por vezes, somente corpo.
Sensações tácteis.
Hormônios em combustão.
Alucinação e temeridade.
Outras vezes, só tive alma.
Posei em orvalhos.
Viajei em versos.
Em rimas, em fonemas e
significados.
Construi a arca.
Destrui pontes.
Atravessei paredes
e o túnel do tempo.
Vesti fantasias
Encarnei personagens.
E despi semânticas.
E, a ampulheta a escorrer
as areias do deserto
Procurei encarnar a justiça.
A misericórdia e a tristeza
de ter a parca noção
da realidade.
Dura e fria realidade.
Vivo noutra dimensão.
E, me guardo todos os dias.
Dentro de caixas.
Craniana, de sapatos,
da gaveta e, do coração
embotado pelas veias
contemporâneas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/06/2019
Alterado em 16/06/2019