Estou inscrita na tragédia diária em existir. Mas, a existência humana, requer essência. Essência que está na placidez de águas estagnadas, na chuva torrencial com raios e trovões.
No silêncio semântico onde afetos e signos trafegam incoerentemente. Dialogam por paradoxos e telepaticamente se transmitem aos corações.
Estou inscrita na tragédia. Há morte, abandono e tristeza. O solitário hábito de existir e persistir, enquanto que a sua volta tudo perece continuamente. Tudo é provisório e precário.
Tudo é deleitável e deletável, editável e mutante. Somos mudança ambulante.
Somos parte da lápide dura e fria. Feita de pedra e, ao final de tudo, marca um campo santo. Devo dizer alguma coisa, mas os olhos pingam e as palavras borram a tela do presente.
A inscrição genética, histórica e cultural conspira contra tanto livre arbítrio. Deixe-me
ao acaso.
A sangria desatada de velhas feridas. A rejeição reiterada e o silêncio da morte e da cumplicidade.
Quem nos perdoará? A quem poderemos realmente perdoar?
Esta é a tragédia destilada no cotidiano. Que voa por entre as folhas do outono, que se dissemina com o pólen da primavera.
Que queima com o sol de verão e, assobia no vento gélido dos invernos.