Então, o vilão tudo pode. Pode violentar uma menina. Pode matar um médico. Pode calar o cantor. O vilão com seus poderes malignos eivados de ódios e ressentimentos. Vingar-se de todos. Não há nada que o detenha. Não tem compaixão. Não conhece misericórdia e, então, é uma fábrica de defuntos e infortúnios. Todos o temem. Todos tem os mais horrendos pesadelos com ele, protagonizando uma tortura e, saindo de cena, com um sorrisinho maroto e quase infantil. Ou simplesmente sádico. Aonde foi que a vida errou de veia e se partiu? Aonde foi que a sua humanidade foi solapada. Teve mãe? Conheceu seu pai? Conheceu em algum mínimo instante algum afeto? Alguma mão o amparou num momento de dor? Ou então, ele transformou a dor em linguagem e os gritos apavorados em sentenças de uma ópera trágica e cotidiana. Então, vilão tudo pode. Ele não é preso. Ele não é infeliz. Ele nem existe de fato, é apenas um reles ser humano, travestido de carne, ossos e músculos, e portador uma doença terrível e enorme no coração, a mais pura e cristalina indiferença. Não tem remédio. Não tem tratamento e nem cirurgia. Quando será que os vilões desaparecerão? Talvez nunca. Talvez existam apenas para servir de divisor de águas. Enquanto isso, lá longe, a calota polar derrete, os mares aumentam, e catástrofes naturais sussuram delicadamente a morte de muitos. Há muitos vilões e poucos mocinhos. Perdoemos os vilões em sua solidão glacial.