"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


 
 Foi a filosofia de Merleau-Ponty[1] que trouxe arguta compreensão de nossa existência e do nosso próprio estado físico. Afinal, quando cogitamos sobre o corpo e, ao mencionarmos a palavra “carne”, logo nos acena a noção de retalhos de animais que servem de alimento.
 
No âmbito anatômico, a carne corresponde ao preenchimento muscular do esqueleto indo até o limite da pele (epiderme) sendo encarada tradicionalmente como sendo o limite e a fronteira que demarca a separado do corpo e do mundo externo a este.
 
A “carne” enfim, nos remete a uma profunda intimidade, sendo a parte mais concreta de mim. É palpável, é carnal que é vital pois traz a recepção dos sentidos, a percepção de sentir, e, ainda, do entender e do supor.
 
O corpo humano tido como carne, o que inclui também os órgãos, ossos, músculos, nervos, veias, linfas, fluídos e demais ingredientes biológicos que fisicamente nos compõe.
 
O corpo humano possui aproximadamente sessenta e cinco por cento de água em homens adultos e sessenta por cento em mulheres adultas. O sangue humano, por sua vez, contém noventa e cinco por cento de água, a gordura corporal corresponde a quatorze por cento enquanto que o tecido ósseo é correspondente a vinte e dois por cento.
 
Enfim, somos líquidos num planeta onde água é preponderante. Estamos imersos e misturados. Enfim, a “carne” nos remete a uma profunda intimidade, sendo a parte mais concreta de mim mesma. Porém, o corpo seja humano ou não, não se resume a isto.

E, tem sido ostensivo objeto de estudo do campo teológico, filosófico, histórico e genético. Acredita-se então que a alma imortal reside e se abriga no corpo, que é mortal.
 
A imortalidade se abriga justamente no mortal e no finito corpo. Segundo Platão, a alma está aprisionada ao corpo e, somente será libertada deste, finalmente, com a morte.


Registram-se inúmeras compreensões contemporâneas sobre o corpo, principalmente sob a visão dicotômica ocidental, que posiciona o corpo como meio de transporte da mente.
 
Para se romper a dicotomia clássica entre o corpo e a alma, vieram muitas filosofias e ciências para tentar desfazer essa divisão que fora feita tanto por Platão e, perpetuada e reafirmada por tantos outros pensadores tal como William Okham e René Descartes que propuseram sérios fundamentos para melhor definir tal separação.
 
Com sua afiada navalha de Ockham[2], promovera divisão útil para a ciência, escolhendo entre duas explicações, a mais simples posto que seja suficiente, eliminando assim, as outras opções, ao mesmo tempo que mostra o utilitarismo da Idade Moderna que em muito influenciou para divorciar os país da Filosofia e da Ciência, consideradas como saberes diferentes, necessários e complementares.
 
No bojo das meditações cartesianas que redefiniu a divisão do corpo, onde se identifica a existência de duas coisas, a saber: uma que pensa (a res cogitans) e a outra que ocupa o espaço (a res extensa). Foi a linguagem moderno que melhor denominou a separação entre o corpo e mente.
 
Porém, o conceito de mente, é uma possibilidade de compreensão do fenômeno da consciência, o que não exige uma concordância obrigatória e absoluta.
 
A fundação da Filosofia da Mente[3] é tributada a Descartes e, por considerar a possibilidade de uma instância de pensamento sem a obrigatoriedade de um corpo físico em específico, o que fundamenta também as pesquisas atuais em Inteligência Artificial.
 
As possibilidades de aplicação da Filosofia da Mente na relação entre a mente e a máquina através do trabalho do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra.
 
Conforme a época, o corpo já teve diversas significações no decorrer da história ocidental. É bastante complexa a compreensão sobre o que está ligado a um modo de ser difundido indiretamente em nossa cultura. Nossas percepções, ações e ideias são representadas pela época em que vivemos sem que tenhamos a nítida consciência disso.
 
Mas, temos ainda algumas representações padronizadas de corpo que são exercidas no nosso cotidiano. A rigor, a percepção, o entendimento, a absorção e o aprendizado detalham o desenvolvimento da mente inserida no contexto externo.
 
A forma mais comentada da ideia de corpo é a de um modelo idealizado e padronizado que estabelece um ideal a ser galgado e, hoje muito popularizado nas academias e pelo uso de imagens em propagandas de diversos produtos.
 
A propaganda sobre o corpo remonta aos antigos gregos quando já se apregoava pela perfeição ao extremo, buscando-se a se igualar aos deuses. Já na fase medieval, o corpo[4] era “a casa do pecado” pois tudo era relacionado ao corpo levaria de alguma forma ao pecado grave tal como a gula, sexo, preguiça e, etc....
 
Não há como desfazer a dicotomia vigente entre os fenômenos psicológicos e os corporais. O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) com a filosofia contemporânea era um fenomenólogo[5] detalhista e metódico, dedicado ao pensamento sobre a existência e, sobre a clássica dicotomia existente entre sujeito e objeto (ou como dizia o referido filósofo, o visível e o invisível).
 
A verdade que a dicotomia existente entre o sujeito e o objeto é típica da Teoria do Conhecimento ou Epistemologia e polariza duas possíveis origens do conhecimento da verdade: ou este partiria do sujeito, ou estaria no objeto.
 
As correntes que entendem ser proveniente do sujeito são comumente chamadas de espiritualismo por acreditar que haveria entidade dentro de cada corpo e que traria o conhecimento do mundo em que anteriormente habitava (conforme afirmava, Sócrates e Platão sobre a alma).
 
Ainda que se considere que o conhecimento aconteça de maneira empírica, ou seja, pela experiência, o espírito não elimina completamente o espiritualismo, posto que se acredita que o conhecimento adquirido externamente se armazena na nesta entidade interna de cada corpo (ou seja, no espírito).
 
Na outra ponta, se considerarmos que a verdade como oriunda do objeto, recai-se no materialismo, isto é, na valorização da matéria como local privilegiado de determinações dos fenômenos da realidade. O corpo, nesse caso, é determinado por sua natureza fisiológica.
 
E na seara da Psicopatologia[6], é a causa fisiológica que traz a constatação da doença e o déficit de recepção de serotonina[7] por parte dos neurônios. Trata-se de fato científico, ou seja, um fato fisiológico.
 
Quando, por exemplo, analisamos a etiologia da depressão que envolve questões subjetivas e culturais, mas não é possível considerar apenas os aspectos fisiológicos, como determinantes de seu surgimento, permanência e reincidência.
 
As variadas perguntas demonstram que não é possível reduzir um fenômeno tão complexo aos determinismos de um único aspecto dele. Merleau-Ponty se propõe a ajudar na superação do impasse existente entre o Espiritualismo[8] e o Materialismo[9]. Aliás, o referido filósofo utiliza as menções Intelectualismo e Realismo, mas remetendo-se ao mesmo conflito.
 
Como possível resposta, o filósofo pôs-se a refutar as ideias principais dessas duas tendências. E o ponto mais intrigantes de seu questionamento, ele situa no corpo, o cerne do paradoxo que essas tendências não conseguem responder: quando uso uma de minhas mãos, digamos, a direita para tocar a outra mão (esquerda) quem neste momento toca e quem está sendo tocado?
 
Quem é o sujeito e quem é o objeto? O corpo é, em si, um paradoxo para a dita dicotomia. Pois ao mesmo tempo que percebe, também é percebido, inclusive por ele próprio. O corpo pertence e é objeto de pertencimento.
 
Noção da mente situa-se na consciência necessária do corpo e, o filósofo francês evita o desligamento desse fenômeno tradicionalmente dividido em duas instâncias.
 
E, a partir da fenomenologia Merleau-Ponty considera, o conceito da Intencionalidade da Consciência, ou seja, para ele, a consciência não corresponde às tendências espiritualistas.
 
Não há nenhuma entidade dentro do corpo que guarda informações. O filósofo francês não usa a noção de mente, mas que um corpo pensante, um corpo /eu sente, um corpo que expressa.
 
Há algumas propostas de compreensão e técnicas corporais que buscam deixar as referências tradicionais por perceberem os problemas da cisão entre o corpo e mente.
 
Uma delas é a Técnica Alexander[10], criada pelo ator australiano Frederick Mathias Alexander, a referida técnica propõe toda uma redescoberta do próprio corpo, identificando quais as posturas físicas rotineiras que nos são prejudiciais (geralmente agregadas ao nosso corpo por influência cultural) e quais seriam as posturas naturais da estrutura orgânica humana.
 
A consciência é um ato, um movimento da estrutura física fornecida pelo corpo em direção do mundo em busca de objetos para estabelecer relações. Tais objetos, por sua vez, só terão significado, quando percebidos pela consciência. A consciência é uma relação e não um lugar (e, ainda está inevitavelmente conectada com algum objeto do mundo).
 
Os objetos, por sua vez, também não correspondem ao empirismo radical. Afinal, a consciência não absorve objetivamente toda a verdade que emana do objeto. Caso isso, acontecesse, esta seria mera receptora passiva de informações, semelhante ao conceito de educação bancária elaborado por Paulo Freire.
 
E, segundo Ernani Fiori que foi o prefaciador da obra intitulada “Pedagogia do Oprimido” quando propõe uma pedagogia revolucionária como apresenta uma concepção estrutural da consciência profunda correspondente à compreensão da consciência da fenomenologia existencial, ou seja, a consciência que permite ao sujeito conhecer seu próprio mundo vivencial.
 
Enquanto a chamada “educação bancária”[11] corresponde à conceituação clássica de consciência ética, vista como um lugar no qual se depositam coisas (tal qual um banco).
 
Assim a pedagogia visa a reestruturação da relação básica e imediata do aluno com o mundo: a liberdade. Merleau-Ponty afirma que perceber é uma ação e, uma ação do corpo. E, é justamente o corpo que reconstrói ontologicamente separada.
 
Para vencer a terrível dualidade clássica entre o Espiritualismo e o Materialismo radicais Merleau-Ponty busca um ponto paradoxal em que os dois âmbitos se transformem em algo inseparavelmente misturado.
 
Sendo dessa maneira que elabora o conceito de carne. E, o filósofo seguiu a linha dos pré-socráticos, para os quais o Universo e a Natureza eram construídos por quatro elementos (a saber: água, terra, fogo e ar) considerando o predomínio de um desses elementos na mistura para que fossem percebidas, as diferentes configurações.
 
No entanto, por mais diferentes que sejam as coisas, estas mais diferentes que sejam as coisas, estas seriam todas compostas dos mesmos elementos: água, terra, fogo e ar.
 
Assim, por analogia, todas as coisas são, para Merleau-Ponty feitas de carne. Então, carne seria o elemento que contém como possibilidade os aspectos visíveis e invisíveis de cada coisa; a possibilidade cujos desdobramentos ocorrem através da percepção.
 
O visível é o aspecto físico externo e concreto. O invisível são aspectos que não são concretizados apesar de serem presentes. É o significado que se dá à coisa, o incômodo que uma coisa prova e, até mesmo, a constatação de uma importância ausência.
 
A carne fornece a sustância para o questionamento filosófico, científico, artístico, espiritual a qualquer um que puder exercer a capacidade de percebê-la. A carne, é, em si, paradoxal, mas, em se tratando da carne do homem, fica mais evidente e latente esse paradoxo.
 
A carne do mundo é visível e invisível simultaneamente (percebe e é percebida). É visível e, ao mesmo tempo, vidente. A questão central é que o corpo seria a carne, mas a própria carne não seria somente a carne. É por esta razão que nossos corpos não são usualmente confundidos como coisa entre as coisas. Estamos imersos na Natureza a partir de dentro, pois nossa estrutura é um ciclo de pertencimento.
 
A Natureza sustenta os corpos, mas nutrem uma consciência que percebe a natureza. Desta forma, a natureza deixa de ser uma realidade externa e objetiva para ser relacional, impossibilitando a diferença entre o interno e o externo. Afinal, tudo é um grande ciclo. E, Merleau Ponty afirma que o corpo próprio está no mundo, assim como o coração no organismo.
 
Na obra “A Estrutura do Comportamento” o filósofo coloca a questão da dicotomia entre o interno e externo, questionando que, tradicionalmente, ao perceber captamos através das sensações, o mundo objetivo em informações fisiológicas.
 
No entanto, para existirem reações fisiológicas internas, é preciso que um estímulo externo tenha acontecido, ou seja, aquilo que acontece externamente e, aciona meus órgãos dos sentidos e o sistema nervoso central (cérebro).
 
Questiona-se: Como seria possível então desvincular um do outro?  Como diferenciar o exclusivamente externo do interno? Outro paradoxo jaz nessa questão.
 
O corpo não se resume a uma coisa, posto que sustente uma vivência de si, de mundo e de liberdade. É claro que continua sendo possível manipular sua parte visível, como é o caso de alguém na mesa de cirurgia.
 
Naquele momento, é um conjunto de pele, músculos, órgãos a serem cortados, costurados, suturados ou transplantados. Porém, a ação ou a consideração de intervir no funcionamento desse corpo já indica que se tende a preservar ou alterar uma experiência de um mundo específico.
 
Ilustra-se a descoberta do corpo, daquela forma que constrói junto à identidade de cada um. Quando em contato com as matrizes das ideias (fenômenos) é que iniciamos a exploração fundamentadas em nossas experiências mais que em conceitos prévios.
 
Meu corpo é meu ponto de vista sobre o mundo e representa ainda o ponto principal e inicial de toda experiência. A experiência do corpo ou corporeidade é sempre uma experiência única e peculiar e, paradoxalmente, não individualizante, pois é também uma experiência do mundo, da situação ou do modo ontologicamente mais geral, é liberdade.
 
A concepção mais antiga de corpo, o considera como instrumento da alma. E, como tal, pode receber apreço pela função que exerce, sendo por isso, elogiado ou exaltado, ou então, pode ser criticado por não corresponder a seu objetivo ou por implicar em limites e condições.
 
Durante a história da filosofia se oscilou ora pela condenação total do corpo reconhecido como túmulo ou prisão da alma, segundo a doutrina dos orifícios e de Platão, quando a exaltação do corpo é feita por Nietzsche[12] (“Quem está desperto e consciente diz: sou todo corpo e nada fora dele”.
 
Na primeira tendência, se verifica o mito da queda da alma no corpo, exposto em Platão em Fedro. O corpo é a objetivação do ser. Por mais que desejamos especular sobre o tema, somos, objetivamente, aquilo que nosso corpo revela, ou não revela.  Somos aquilo que amamos e o amor se manifesta e se representa na corporalidade. O mito exposto no Fedro de Platão, da queda da alma no corpo, é enfim retomado pela filosofia patrística especialmente por Orígenes, no princípio da escolástica. 
 
Tal ideia admitia que o corpo era prisão da alma, consequentemente da queda promovida pelo pecado. Essa doutrina, também conhecida como a doutrina da instrumentalidade fora particularmente desenvolvida pelos pais da igreja com base na elaboração original de Aristóteles.
 
Em sentido oposto, em prol da exaltação do corpo defendida por Epicuro quando afirmou que o corpo é o agente sem o qual a alma não poderia ser capaz de ter sensações. E, a própria doutrina materialista via no corpo a manifestação mais plena das possibilidades da matéria.
Hegel[13] afirmava que o corpo é a exteriorização o sujeito que só se reconhece em si pela forma que tem. Enfim, o corpo reflete uma estrutura de identidade do sujeito.
 
Segundo o filósofo alemão, corpo e alma possuem uma unidade originária substancial, constituindo-se como a base sobre a qual o sujeito consciente e volitivo se realiza e desenvolve. Somente a partir desta unidade constitutiva é que se pode pensar a relação e/ou oposição entre corpo e alma (tal como tematizada pela modernidade filosófica) e a posterior unidade diferenciada entre ambos.
 
Nesta abordagem, Hegel critica as filosofias de Descartes e Espinosa, a primeira porque acabava por tratar a alma como uma coisa com propriedades sensíveis idênticas às da matéria e, por isso, como um ser fixo e em repouso; e a segunda, por não desenvolver a unidade da substância, permanecendo assim, na indeterminação indiferenciada.
 
Com base nesta discussão, procuraremos mostrar neste trabalho que a Filosofia do Espírito Subjetivo de Hegel[14] pode ser lida como um monismo especulativo, onde corpo e alma, ou corpo e mente, conjuntamente, formam uma única realidade, encerrando de maneira especulativa os estados mentais subjetivos como estados psicofísicos, de modo que os conteúdos mentais e volitivos do sujeito possuem estreita ligação com a corporeidade.
 
Ao longo do desenvolvimento do Espírito Subjetivo, podemos encontrar diversas referências aos conteúdos mentais de origem natural e corpórea presentes nos momentos da consciência e espírito. 
 
Ainda na primeira tendência, se verifica o mito da queda da alma no corpo que foi exposto em Platão em Fedro, o que mais tarde, fora retomado pela patrística oriental, e bem mais tarde reproduzido pela escolástica que também usou a noção de instrumentalidade do corpo, no estado de queda, devido ao pecado, a alma tem a necessidade do corpo, cujos serviços lhe são indispensáveis.
 
Aristóteles foi o mais completo instrumentalista para quem o corpo é certo instrumento natural da alma, assim como o macho é instrumento de corte, ainda que o corpo não seja um machado, mas tem em si, o princípio do movimento e repouso.
 
Para Aristóteles, uma criatura viva é substância. Enquanto que o corpo é matéria, a forma de alma. A alma (psiquê)[15] é a estrutura do corpo, sua função e organização. Para Aristóteles, a psique controlava a reprodução, o movimento e a percepção. Em contraste, Aristóteles considerava a razão (nous) como a forma mais elevada de racionalidade.
 
Pois acreditava que o motor imobilizado do universo era um nous cósmico. Aristóteles pensava que a alma era a forma do corpo. E, a alma era simplesmente a soma total das operações de um ser humano. Aristóteles acreditava existir uma hierarquia entre os seres vivos, assim, as plantas só têm uma alma vegetativa, os animais estão acima das plantas porque têm apetite, os seres humanos, por sua vez, estão acima dos animais porque têm o poder da razão.
 
E, o filósofo tentou explicar a sua compreensão sobre a distinção entre o corpo e a alma, usando a analogia de um machado. Se um machado fosse uma coisa viva, então seu corpo seria feito de madeira e metal. Porém, sua alma seria a coisa que fez dela um machado, ou seja, a sua capacidade de cortar. Se perdesse a sua capacidade de cortar deixaria de ser um machado para ser simplesmente madeira e metal.
 
Outra analogia que utilizou é o olho. Se o olho fosse um animal, a visão teria que ser sua alma. Quando o olho não mais vê, então é um olho no nome apenas. Da mesma forma, um animal morto é apenas um animal no nome, tem o mesmo corpo, mas perdeu sua alma.
 
O relevante é que o propósito final de algo, assim: um machado corta, um olho vê e um animal é animado, e, etc. Isto é o que se entender por teleologia, ou seja, o significado final.
 
Para Aristóteles, corpo e alma não são dois elementos separados, mas são uma coisa. O corpo e alma não são, como Platão teria dito, duas entidades distintas, mas são partes ou aspectos diferentes da mesma coisa.
 
Assim, Aristóteles não permite a possibilidade da imortalidade da alma. Posto que seja a alma simplesmente a forma do corpo e que não seja capaz de existir sem o corpo. A alma é o que a torna uma pessoa, uma vez que sem ela, seria apenas um pedaço de carne. Sem o corpo, a alma não pode existir.

E, a alma morre juntamente com o corpo. A única exceção para Aristóteles, a razão (nous), porém, não se sabe se a razão sobrevive à morte, se afinal, é ou não pessoal.
 
O conceito de um motor primário depende do argumento de “tudo deve ter uma causa”. Tal argumento então contradiz a si mesmo, alegando que Deus faz exatamente o que afirma ser impossível. Então, Aristóteles não explica adequadamente como Deus como força pensante pode ser responsável por causar movimento.
 
Por um lado, Aristóteles enfatiza que o conhecimento real é um ser com os sentidos, mas o conceito de algo movido apenas pelo pensamento não é o que a maioria de nós experimenta. Aristóteles acreditava que todo movimento depende de que haja um motor. E, assim, o movimento significava mais do que algo viajando do ponto A para o ponto B. O movimento também incluía a mudança, o crescimento o derretimento, o resfriamento, o aquecimento e, etc....
 
Assim como o seu antecessor Heráclito, Aristóteles reconheceu que tudo no mundo está num estado de fluxo, e ainda argumentou, que por trás de cada movimento deve haver uma cadeia[16] de eventos que provocaram o movimento que vemos acontecendo.
 
Lembremos que o materialismo não implica necessariamente em negação da instrumentalidade do corpo, mesmo que a alma seja corpórea. Assim pensava Epicuro[17] que atribuía ao corpo, a função de preparar a alma para a causa da sensação e, assim igualmente pensavam os estoicos, para os quais a alma é aquilo que domina ou, de vários modos utiliza o organismo físico.
 
A partir da premissa da perfeição do homem de onde se deduz a racionalidade do cosmo, atinge-se à perfeição do homem, que é virtude. A virtude se traduz como meio e fim que o homem deve alcançar para ser sábio e feliz.
 
O estoicismo encara a reflexão pela natureza como um todo e a razão estoica conduz sua dedução do todo para as partes, até chegar a uma, particular e especial: o homem.
 
A natureza é o todo porque é esta que gera todas as coisas, esta é divina porque Deus é imanente a esta, confunde-se com esta. O homem ocupa, segundo os estoicos, o lugar privilegiado no cosmo, pois a natureza o distinguiu de todos os animais, conferindo-lhe o traço divino.
 
O principal traço distintivo do homem é a razão, posto que possua e porque sua alma é uma emanação da mente divina. A alma humana, diferentemente das dos outros animais, é racional, emana da própria razão universal.
 
O ideal estoico é de uma transmutação íntima que transfiguraria o indivíduo inteiro em pura razão. As ilusões e as paixões que cegam a alma, são quatro, em resumo: a alegria, a tristeza, o medo e o desejo. O sábio estoico não é acometido por nenhuma paixão, porque cultivou em sua alma a apatia, a ausência de toda e qualquer paixão.
 
Não é diferente a concepção de corpo no materialismo de Hobbes afirmando que o espírito nada mais é que o movimento em certas partes do corpo orgânico. Assim Hobbes reconhece a instrumentalidade do corpo em relação a esse movimento, que é a alma.
 
Nem o tosco materialismo do século XIX para qual a alma seria produto do cérebro assim como a bílis é produto do fígado e a urina é dos rins, obedece ao esquema interpretativo diferente, o cérebro, como o fígado e os rins, continua sendo um instrumento para a produção de alguma coisa.
 
Já no lado oposto, o espiritualismo dos neoplatônicos[18] também admite a doutrina da instrumentalidade assim, conforme aduziu Plotino: “se a alma é substância”, será uma forma separada do corpo, ou melhor, aquilo que serve do corpo.
 
O estoico era o nome conferido aos filósofos que frequentavam a Stoa[19], que em grego quer dizer pórtico, que se situava em Atenas e que cultivavam uma doutrina que admitia que o homem deveria buscar a sabedoria e felicidade.
 
Em apertada síntese, o estoicismo admitia o ideal de perfeição para o homem, de forma que todo que todo sábio é necessariamente feliz. E, conforme previa os estoicos, só a alma livre de qualquer paixão e governada somente pela razão possui a sabedoria e virtude.
 
A alma sendo uma emanação da mente divina, é de ordem superior e, portanto, só pode ser comparada com a divindade. Por essa razão, quando cultivada e curada das ilusões capazes de cegá-la, alcança assim o mais alto grau de inteligência que é a razão perfeita, chamada de virtude.
 
O materialismo, em termos gerais, se contrapõe ao idealismo[20], não se pode realmente compreender o materialismo, sem conhecer o seu oposto, o idealismo.  O primeiro questionamento que se aponta: qual é a primeira causa de tudo o que existe, a matéria ou o espírito? Se há princípio e fim em tudo o que existe.
 
Formulando diferentemente a questão. No mundo em existência que concebemos, percebemos primeiramente a nossa própria existência que se compõe em certo sentido de duas partes: 1º) vemos a nós mesmos como um corpo, nosso corpo material; 2º) sentimos a nós mesmos como elementos de manifestações internas: pensar, sentir e saber.
 
São esses os dois momentos principais de cada “eu” sente em sua própria existência. Por essa razão, ao construirmos uma escola filosófica, temos diante de nós dois caminhos a seguir: o primeiro: a escola materialista afirmando que em todo o existente está a matéria, o corpo; que tudo na natureza é objeto da percepção dos nossos sentidos e que o pensamento humano é o resultado da matéria, o pensar é atributo da matéria, como todos os outros; 2º: a escola idealista que diz sentirmos a primeiramente a existência das nossas emoções, dos nossos pensamentos e que o corpo – a matéria existe tão somente porque o “eu”, nosso pensamento concebe.
 
A pedra, por exemplo, que não se concebe a si própria, não tem existência. Percebemos um fenômeno com os nossos órgãos, vemo-los com os nossos olhos, mas o ato em si de ver, o fato como tal, não é material, não pode ser visto e nem tocado.  Esta escola toma, por isto, como base o espírito, o pensamento. A matéria é por esta tomada como um acidente ou como corporificação do espírito.
 
A doutrina da instrumentalidade dominou praticamente toda a filosofia medieval[21] e conforme disse São Tomás De Aquino: “A finalidade próxima do corpo é a alma racional e suas operações. Mas a matéria existe, em vista da forma, e os instrumentos existem em vista das ações do agente”.
 
A exceção a essa teoria é a da forma de corporeidade, típica do agostinismo medieval[22], que consistia em atribuir ao corpo orgânico a uma forma própria ou substância independente. O abandono definitivo da instrumentalidade do corpo só ocorreu com o dualismo cartesiano[23].
 
Acredita-se comumente que a consequência da separação instituída por Descartes entre alma e corpo, como duas substâncias diferentes, foi o estabelecimento da independência da alma em relação ao corpo.
 
Em verdade sua primeira consequência foi estabelecer a independência do corpo em relação à alma, o que antes de Descartes, nunca se apresentara. A instrumentalidade do corpo supõe que nada se pode fazer sem alma[24], do mesmo modo que o machado não serve para nada, se não for empunhado por alguém.
 
Mas o reconhecimento de que a alma e o corpo são duas substâncias independentes implica, segundo Descartes, que “todo o calor e todos os movimentos que existem em nós pertencem só ao corpo”, porquanto não dependem absolutamente do pensamento. Assim o corpo seria uma máquina que se move por si.
 
O corpo de homem vivo, segundo Descartes, difere tanto do corpo de um homem morto quanto de um relógio ou autômato (que se move sozinho) e que está carregado e contém o princípio corpóreo dos movimentos para o qual fora projetado.
 
O corpo como autômato não é uma tese metafísica e nem mesmo metodológica que prescreve a direção e os instrumentos das indagações voltadas para a realidade do corpo[25].
 
Foi historicamente a tese cartesiana que fornecendo, durante muito tempo, o pressuposto teórico das investigações científicas sobre os corpos vivos. O dualismo cartesiano tinha a desvantagem de criar um problema desconhecido da concepção clássica de corpo como instrumento; o problema da relação entre o corpo e a alma.
 
A alma seria então a forma e a razão do corpo. Como e por que as duas substâncias independentes se combinam para formar o homem?
 
E como o homem, que, sob certo aspecto é uma realidade única, que pode resultar de duas realidades independentes. A filosofia moderna e contemporânea elaborou quatro soluções para esse impasse.
 
A primeira solução consiste em negar a diversidade das substâncias e um reduzir a substância corpórea à substância espiritual. Foi o que fez Leibniz[26] ao conceber o corpo vivo como um conjunto de mônadas, substâncias espirituais agrupadas em torno de uma enteléquia dominante, que é a alma do animal.
 
O corpo é um agregado de substâncias e não é, ele próprio uma substância. Essa solução serviu para outras definições apresentadas sobretudo pelas correntes do espiritualismo. A expressão clássica desse ponto é de microcosmo de Lotze[27].
São variantes dessas doutrinas o entendimento de Schopenhauer[28] e o de Bergson[29]. O primeiro identificou o corpo como a vontade, o que ele julga ser o número ou a substância do mundo, cuja representação é fenômeno.

E o segundo, afirma que o corpo é nosso instrumento de ação e somente de ação e não contribuiu para representação geral para a vida da consciência, serve apenas para selecionar imagens com vistas à ação e para possibilitar a percepção que consiste nessa seleção.
 
Mas a consciência, que é memória, não depende do corpo. A análise de Bergson é a redução do corpo à percepção (bem como da consciência à memória), ou seja, há negação de qualquer realidade própria do corpo.
 
Ao lado do dualismo, há ainda outra atitude contrária, típica do materialismo que reduz a substância espiritual à corpórea, e isso já em Hobbes, trazendo radicais consequências (La Mettrie) para quem o homem é um ser puramente físico.
 
Já outra solução vê o corpo como signo da alma que é uma doutrina antiga que Platão atribuiu aos órficos[30], mas só preponderou durante o romantismo. Hegel afirmou: “A alma no seu corpo corporalidade totalmente formada e assumida está como sujeito único per se; e a corporalidade seria a exterioridade como o predicado no qual o sujeito se reconhece somente a si mesmo”.

A terceira proposta de solução consiste em negar a diversidade de substâncias, mas não a diversidade entre alma e corpo e, por conseguinte, em considerar a alma e o corpo, como duas manifestações de uma mesma substância.
 
Spinoza ofereceu típica forma a essa solução, considerando a alma e o corpo como modos ou formas de manifestações de dois princípios atribuídos da substância divina única: pensamento e extensão.

A ideia do corpo e mente que formam um único e mesmo indivíduo que ora é atributo do pensamento e, ora é atributo da extensão. Spinoza inspirou o modelo à doutrina do paralelismo psicofísico que presidiu a formação da psicologia científica moderna.
 
A quarta solução consiste em considerar o corpo como forma de experiência ou modo de ser vivenciado que, todavia, tenha caráter específico. Os precedentes dessa solução são as doutrinas de Schopenhauer e Bergson.
 
Afinal, o corpo é sobretudo imagem física determinada e multiforme. O corpo é o devir que não temos e não somos, mas acontece em nós. O devir é esse debate com o mundo, onde cunha-se a experiência e forma capacidades.

O corpo não passa de comportamento e segundo Sartre[31], é a experiência daquilo que é ultrapassado e passado. O corpo não é objeto ou uma coisa, mesmo quando se trate do corpo alheio. O corpo é um feixe de processos como visão, mobilidade, sexualidade e, etc.
 
O corpo conforme Merleau-Ponty é concebido pelo intelecto+.
 
Devemos entender o termo "mente" tem a ver com a concepção e criação do que quer que seja, artística, poética, intelectual, etc., envolvendo ainda as intuições.  O importante dicionarista Aurélio estabelece para o significado de "mente":   1) intelecto, pensamento, entendimento, alma, espírito; 2) concepção, imaginação e, 3) intuição, intuito, desígnio, disposição, tenção".
 
Com toda a certeza, o cérebro é a mais fantástica e complexa estrutura organizada existente no planeta, porém ainda não é totalmente conhecido ainda.  Sendo matéria, pode ser visto, tocado, manipulado e observado em todos os seus aspectos e detalhes, localizando-se no interior do crânio que o protege com sua carapaça óssea.
 
Sua constituição é bem conhecida, suas células são conhecidas como neurônios que se ligam uns aos outros pelas chamadas vias neurais ou sinapses – ligações de uma célula com muitas.
 
Estes neurônios são banhados ou envolvidos por substâncias químicas (conhecidas como enzimas), hormônios e quase uma centena de neurotransmissores, os quais têm suas funções específicas dentro deste complexo conjunto, formando um sistema harmônico.
 
Contudo, as nascentes ciências física, química e biologia que vinham firmando suas raízes com base na matéria e tudo que ela representava, concentraram e desenvolveram os seus esforços com bases na experimentação e na instrumentação.
 
Desta forma, neste enfrentamento entre o material e o transcendental, o material levou vantagem, conduzindo, nos dias atuais, a ciência oficial aos seus píncaros dourados, desdobrada na moderna e fantástica tecnologia que tanto nos fascina, sendo indubitável que também, concorra firmemente para o progresso humano.
 
Apesar disso e das enormes dificuldades criadas pela dominação religiosa em toda a Idade Média, no século XIX, em França, na Inglaterra e nos Estados Unidos, existiram importantes pesquisadores que buscaram algo mais do que a matéria e o mecanicismo material, aprofundando-se no estudo da interação entre força e corpo, ou seja, espírito e corpo, na quase certeza de que a força anima todos os seres vivos, principalmente o seu representante máximo na Terra – o homem, o homo sapiens[32].
 
E há, ainda, no momento contemporâneo[33], tantas outras questões não respondidas e entendidas, pois as estruturas cerebrais e as conexões neurais são demasiadamente complexas.
 
A neurociência tenta decifrar, por exemplo, os mistérios do pensamento e da linguagem, das diferentes formas de aprendizagem, da memória e sua capacidade de retenção de informações, das numerosas e complexas emoções, da criatividade, da consciência e seu papel regulador da moral e da ética; as motivações de obsessão psíquica, da tendência da grande maioria das  pessoas ao misticismo o que leva ao obscurantismo; como se desenvolvem as tendências e as disfunções negativas como o medo, o ódio, a inveja e tantos outros sentimentos negativos.
 
Segundo Jung existiriam duas correntes opostas para se compreender as relações entre corpo e mente. Uma considera a mente como sendo um epifenômeno do corpo, ou seja, redutível aos processos cerebrais, enquanto em outra, o corpo seria um apêndice da mente. Jung afirma que “(…) os processos do corpo e processos mentais desenrolam-se simultaneamente e de maneira totalmente misteriosa para nós. É por causa de nossa cabeça lamentável que não podemos conceber o corpo e psiquê como sendo uma única coisa”.
 
Ainda acrescenta: “Corpo[34] e mente são os dois aspectos do ser vivo, e isso é tudo o que sabemos. Melhor afirmar que os dois elementos agem simultaneamente, de forma milagrosa, e é melhor deixarmos as coisas assim, pois não podemos imaginá-las juntas”. Jung[35] utiliza o conceito de sincronicidade para descrever a manifestação da unidade mente – corpo, pois seria impossível determinar as origens de um fenômeno. Assim, “a psique depende do corpo, e o corpo depende da psiquê” (In: JUNG, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. 12ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1963; A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. Petrópolis: Vozes, 1981).
Recordando Feuerbach[36] que reivindicou a corporeidade e as necessidades concretas dos homens, conforme Condillac e Maine de Biran[37] que evidenciaram a percepção interior graças ao sujeito que reconhece o seu corpo.
 
Os progressos da Ciência ajudaram em muito no reconhecimento do corpo e que não pode ser um objeto, porque é constantemente percebido como próprio. Ter o corpo equivale estar encarnado, é instrumento. A vivência do corpo é importante para o conhecimento e para outros “eus” (Husserl[38]).
 
Para o corpo fica evidente o involuntário e alteridade (Ricouer) a sexualidade (Deleuze) e a diferença sexual, com relação ao trabalho e ao poder com as fantasias sociais. O desafio simbólico do corpo é o último peso filosófico suportado, mas não superado pelo Ocidente.
 
 
 

 
 

[1] Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) foi um filósofo fenomenólogo francês.
Suas primeiras obras procuraram dialogar com a psicologia La Structure du comportement (1942) e Phénoménologie de la perception (1945). Influenciado pela obra de Edmund Husserl, Merleau-Ponty procura dar carnalidade à consciência intencional de seu mestre e precursor, nesse sentido leva a filosofia de Husserl até as últimas consequências de sua encarnação no mundo da vida. 
Em Fenomenologia da percepção, Merleau-Ponty critica a existência do homem cartesiana pelo cogito. Para o fenomenólogo o homem se faz presente pelo seu corpo e, este participa do processo cognitivo. Voltando sua atenção para a questões sociais e políticas, Merleau-Ponty publicou em 1947 um conjunto de ensaios marxistas - Humanisme et terreur ("Humanismo e Terror"), a mais elaborada defesa do comunismo soviético do final dos anos 1940.
Contrário ao julgamento do terrorismo soviético, atacou o que considerava "hipocrisia ocidental". Porém a guerra da Coreia desiludiu-o e fê-lo romper com Sartre, que apoiava os comunistas da Coreia do Norte. Em 1955, Merleau-Ponty publicou mais ensaios marxistas, Les Aventures de la dialectique ("As Aventuras da Dialética"). Essa coleção, no entanto, indicava sua mudança de posição:
o marxismo não aparece mais como a última palavra na História, mas apenas como uma metodologia heurística.
Segundo Merleau-Ponty, quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência, primeiro: nota e percebe esse objeto em total harmonia com a sua forma, a partir de sua consciência perceptiva. Após perceber o objeto, este entra em sua consciência e passa a ser um fenômeno. Com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui algo sobre ele, imagina-o em toda sua plenitude, e será capaz de descrever o que ele realmente é. Dessa forma, o conhecimento do fenômeno é gerado em torno do próprio fenómeno. Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade.
[2] A Navalha de Occam ou Ockham é um princípio lógico epistemológico que afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do mesmo. Frequentemente é designado pela expressão latina Lex Parsimoniae (Lei da Parcimônia), enunciada como entia non sunt multiplicanda praeter necesssitatem (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade); apesar disso, considera-se que a navalha de Occam é apenas uma dentre as várias navalhas filosóficas que podem ser consideradas como princípios da parcimônia.
Originalmente um princípio da filosofia reducionista do nominalismo, é hoje tido como uma das máximas heurísticas (regra geral) que aconselham economia.  A Navalha de Occam é um princípio metodológico e, não uma lei que diz o que é verdade e o que não é. Ela não sugere que as explicações mais simples são sempre as verdadeiras e que as mais complexas devem ser refutadas em qualquer situação. Portanto, a explicação mais simples nem sempre ser a mais correta, apesar de ser a mais provável.
A "Navalha de Occam" defende a intuição como ponto de partida para o conhecimento do universo.
William de Ockham defende o princípio de que a natureza é por si mesma econômica, optando invariavelmente pelo caminho mais simples. A origem desta tese pode ser traçada desde John Duns Scotus (1265-1308), Robert Grosseteste (1175-1253), ou mesmo desde Aristóteles.
William de Ockham, por outro lado, achava que a aplicação muito restrita desse princípio limitaria o poder de Deus (que deveria poder escolher um caminho mais complicado para alguns fenômenos se assim desejasse). No entanto, Ockham defendia que o homem, nas suas teorias, deveria sempre eliminar conceitos supérfluos.
Este princípio ficou conhecido como “navalha de Occam" a partir do século XIX, através dos trabalhos de Sir William Hamilton.
[3] A Filosofia da Mente é o ramo que trata de estudos referentes a natureza da mente, dos eventos mentais, funções e propriedades mentais, consciência e a relação deste com o corpo, a filosofia da mente, ocupa-se particularmente, porém não exclusivamente, do problema mente-corpo, que é uma questão clássica em filosofia que trata da forma como a mente se relaciona com o corpo, dado que o corpo é uma entidade física enquanto que a mente é uma entidade não-física.
[4] A causa do pecado tem origem na alma, não na carne, e a corrupção contraída pelo pecado não é pecado, mas pena do pecado. ... homem exterior se corrompa, escreve: Sabemos que, se nossa casa e morada terrena se destrói, Deus nos dará outra casacasa não feita por mão de homens, que durará eternamente... (In: Santo Agostinho, A cidade de Deus: Parte II (Livro XI a XXII) Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2017).
[5] A fenomenologia surgiu no campo da filosofia e destaca como teoria filosófica estuar os fenômenos e tudo o que acontece ao seu redor. Porém, fenômeno significa tudo aquilo que se manifesta no plano consciente de um indivíduo como resultado de sua atividade perceptiva.
Portanto, tudo, aquilo que provém de uma experiência sensorial pode ser catalogado dentro do universo dos fenômenos. Pelo contrário, tudo o que não pode ser percebido e que demande de nossa razão para ser compreendido não poderá ser chamado de fenômeno.

 
[6] Ramo da medicina que tem como finalidade a referência, classificação e explicação para as modificações do modo de vida, comportamento e da personalidade de um indivíduo, que se desviam da norma e/ou ocasionam sofrimento e são consideradas como expressão de doenças mentais.
A palavra Psicopatologia é uma palavra composta por três outras palavras gregas, a saber: psique (que significa alma ou mente), pathos (que significa paixão, sofrimento ou doença) e logo que significa lógica ou conhecimento.
[7]serotonina é um neurotransmissor produzido no tronco encefálico, no núcleo da rafe, e desempenha papel em muitas partes do organismo. Embora, lembra a neurologista Rosa Hasan, do Hospital São Luiz, todas as suas áreas de atuação ainda estejam sendo descobertas pela neurociência, estudos já apontam alguns lugares onde esse neurotransmissor age como regulador do sono, depressão e distúrbio de humor, enxaqueca, saciedade, atividade sexual, TPM (tensão pré-menstrual).
[8] Para o espiritualista existe um dualismo corpo-espírito. Há duas realidades distintas no todo do ser humano, o corpo e o espírito, ou alma, interligadas em vida, mas separadas depois da morte. Logo que a alma se separa do corpo, este vê-se reduzido à sua condição de matéria, logo putrefátil, sem vida, enquanto a alma segue por outros insondáveis caminhos.

Enquanto o materialista baseia os seus conceitos nas poderosas investigações científicas, sobretudo na área da Evolução e das Ciências Neurobiológicas, o espiritualista, sem qualquer base racional científica e convincente, baseia os seus conceitos numa crença, apenas numa fé, que apesar de legítima, é apenas um acreditar. Lamaître enunciou: "a ciência é um cemitério de hipóteses".
[9] O indivíduo materialista, tanto no sentido filosófico como no científico do termo, é aquela pessoa que crê no ser humano como um todo, um todo indivisível, indissociável, uma única substância conforme alegou Spinoza. Aquela pessoa para quem não existe qualquer fronteira entre a pele e a carne, entre a carne e o sangue, entre o sangue e o cérebro, entre o cérebro e a mente, entre a mente e o pensamento, do qual decorre toda a vida psíquica do indivíduo.
A realidade de uma vida psíquica em nada se encontra em contradição com o materialismo. A vida psíquica, entendida como a vida decorrente da atividade cerebral, e, logicamente, de toda a atividade pensante, não contradiz, de modo algum, o pensamento materialista.
O termo “psíquico” está de tal modo enraizado na nossa linguagem e na nossa sociedade que não é possível eliminá-lo, nem interessa. Quando um materialista diz, por exemplo, em conversa ou num texto literário, “a alma do poeta ou do pintor”,  quer dizer o íntimo, o mais nobre do poeta e do pintor, e não, como é óbvio, se refere à alma do poeta ou do pintor em sentido espiritualista. Quando um materialista diz “ele é um espírito vivo”, logicamente que quer dizer que ele tem uma atividade psíquica intensa, perspicaz e arguta, e, de modo algum, se refere ao imaterial espírito contido no conceito espiritualista.
[10] A Técnica de Alexander é uma técnica de reeducação corporal e coordenação realizada a partir de princípios físicos e psicológicos. Baseia-se na autopercepção do movimento e, é aplicável a diversos casos como alívio de dores na coluna, reabilitação após acidentes, melhora na respiração, posicionamento correto ao tocar instrumentos musicais ou cantar, além de outros hábitos relacionados.
A técnica leva o nome de quem primeiro a formulou Frederick Mathias Alexander, em 1890 e 1900.Alexander desenvolveu a técnica como uma ferramenta pessoal para aliviar dor e rouquidão que afetavam sua carreira como ator shakespeariano.
Alexander ensinou sua técnica por trinta anos antes de criar uma escola para formar outros professores da técnica. Todos os atuais professores da técnica de Alexander participaram de um treinamento de três anos, com 1600 horas aula. A técnica é ensinada em aulas, através de uma combinação de instruções verbais e de demonstrações práticas, nas quais o professor toca o aluno e posiciona seu corpo adequadamente.
Durante as aulas, que podem durar de 30 minutos a uma hora, os alunos, instruídos pelo professor, passam a inibir reações habituais e, no lugar delas, acham novos e mais eficientes meios de executar ações simples, como andar, parar de pé ou assentar.

 
[11] Paulo Freire fez uma crítica à educação que metaforicamente chamou de bancária e, em contrapartida a esta, descreve a educação libertadora ou problematizadora. A educação bancária pressupõe uma relação vertical entre o educador e educando. O educador é o sujeito que detêm o conhecimento, pensa e prescreve, enquanto o educando é o objeto que recebe o conhecimento, é pensado e segue a prescrição.
O educador bancário faz depósitos nos educandos e, estes passivamente as recebem. Tal concepção de educação tem como propósito, seja intencional ou não, a formação de indivíduo acomodados, não questionadores e que se submetem à estrutura de poder vigente. É o rebanho que tal como uma massa homogênea não projeta, não transforma e nem almeja ser mais.
[12] A respeito da fusão do corpo com a alma no pensamento tardio de Nietzsche, se evidencia que o psiquismo é uma estrutura hierárquica de muitas almas, então compreende-se agora que essas almas ou consciências são vontade poder.
É fato que isso não traz surpresa, posto que a agonística das consciências, que se relacionam em um jogo ou mando e obediência, identifica-se inteiramente com a lógica da vontade de poder, pela qual um embate das forças produz estruturas hierárquicas de duração relativa.
[13] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1821) foi filósofo alemão e, um dos criadores do sistema filosófico chamado de idealismo. Foi o precursor da filosofia continental e do marxismo. O idealismo absoluto desenvolvido por Hegel abrangeu diversas áreas do conhecimento humano tais como a política, a psicologia, a arte, a filosofia e também a religião.

A teoria de Hegel baseia-se na ideia de que as contradições e dialéticas são resolvidas para a criação de um modelo, que tanto pode refletir-se no espírito (no sentido de alma) e as aspirações ideais, como no Estado político. A época de Hegel era importante para analisar sua filosofia, vivenciou uma Alemanha dividida e fragmentada em territórios independentes, cada qual, com um aparato jurídico e militar próprio. O que se revelou muito relevante para o filósofo empreendesse ao Estado um papel tão importante, representando a mais alta realização do espírito absoluto.

 
[14] De acordo com as três fases do processo dialético que Hegel denominou simplicidade, cisão e reconciliação, a realidade evolui e forma repetidamente novas contradições que encontram solução. Esta, por sua vez, dá origem a contradições novas e a novas soluções. Segundo esse esquema, a ideia lógica, o princípio, converte-se em seu contrário, a natureza, e esta em espírito, que é a "síntese" de ideia e natureza: a ideia "para si". A cada uma dessas etapas correspondem, respectivamente, a lógica, a filosofia natural e a filosofia do espírito. A parte mais complexa do sistema é essa última: o espírito se desdobra em "subjetivo", "objetivo" e "absoluto".

O espírito subjetivo é o de cada indivíduo, e o espírito objetivo é a manifestação da ideia na história: sua expressão máxima é constituída pelo estado, que realiza a razão universal humana, síntese do espírito subjetivo e do objetivo no espírito absoluto. Este alcança o máximo do conhecimento de si mesmo, de maneira cada vez mais perfeita, na arte, na religião e na filosofia. Assim, o espírito só chega a se compreender como tal no homem, já que existe "unidade e identidade da natureza divina e da natureza humana".

O idealismo hegeliano marcou profundamente a história da filosofia e sua influência pode ser detectada em escolas muito diferentes umas das outras como o existencialismo e a fenomenologia.  Além disso, o desenvolvimento da dialética mediante a substituição da ideia pela matéria foi uma tese central no pensamento de Karl Marx. Não é exagero afirmar, portanto, que a obra de Hegel implantou um quadro de referências indispensáveis para a compreensão das abordagens filosóficas posteriores.
[15] A palavra grega psykhé é o termo usado por muitos escritores da Antiguidade para o entendimento do que viríamos a chamar na língua latina de anima ou alma.  Desde Homero, ela ganha contornos de fumaça, sombra, um aspecto menos denso daquilo que é o corpo. A própria Filosofia, com Anaxímenes, entende que a alma é um sopro, uma espécie de ar em movimento e que move as coisas corpóreas, refrigerando-as e mantendo-as em movimento (basta notar que o cadáver não respira, por isso o corpo morre ou fica em repouso).
[16] Na cadeia de eventos que deve nos levar de volta para algo que se novo, mas em si mesmo, impassível. Assim é referendado o motor primário. Pois na visão de Aristóteles, a mudança é eterna. Não pode ter havido uma primeira mudança, porque algo teria que ter acontecido um pouco antes da mudança que a coloco fora e, isso mesmo teria sido a uma mudança e, assim, por diante.
Em sua obra Metafísica, que significa literalmente após a física, Aristóteles chamou essa fonte de todo movimento como o motor primário, que é a primeira de todas as substâncias, as primeiras fontes de movimento necessária, que por sua vez, não se move, É um ser com vida eterna, e na Metafísica, Aristóteles também chama esse ser de “Deus”.
[17] Epicuro de Samos foi filósofo grego do período helenístico. Seu principal pensamento se desenvolveu na Jônia, no Egito, e a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador. O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, ausência de dor (física) e ataraxia ou imperturbabilidade da alma.  Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer.
Estas referências seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. Utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas. Dizia que os átomos são de qualidades finitas, de quantidades infinitas e sujeitos a infinitas combinações.
[18] Neoplatonismo é definido como o conjunto de doutrinas e escolas de inspiração platônica que se desenvolveram do século III ao século VI, mais precisamente da fundação da Escola alexandrina por Amônio Sacas ao fechamento da Escola de Atenas imposto pelo Edito de Justiniano em 529. É direcionado para os aspectos espirituais e cosmológicos do pensamento platônico, sintetizando o platonismo com a teologia egípcia e judaica.
Os pensadores da escola neoplatônica relacionaram seus pensadores com outras escolas filosóficas.
Por exemplo, certas vertentes do neoplatonismo influenciaram pensadores cristãos como Agostinho, Boécio, João Escoto Erígena e Boaventura de Bagnoregio enquanto que o pensamento cristão influenciou e às vezes converteu filósofos neoplatônicos, como Pseudo-Dionísio e Aeopagita. Na Idade Média, os argumentos neoplatônicos foram levados a sério por pensadores islâmicos e judeus medievais, como al-Farabi e Moisés Maimônides, e despertou interesse novamente no Renascimento, com a aquisição da tradução dos textos neoplatônicos em grego e árabe.
[19] Stoa é um elemento arquitetônico mui utilizado na Grécia Antiga e que consistia de um corredor ou pórtico coberto, comumente destinado ao uso público. As primeiras stoas eram abertas na entrada, com colunas que ladeavam o edifício, criando uma atmosfera envolvente e protegida.
As colunas costumavam ser feitas no estilo dórico. A mais famosa Stoa foi a de Eumene também chamada de Pórtico de Eumene na Acrópole de Atenas, situada entre o Odeão de Herodes ático e o Teatro de Dionísio.
[20] Os idealistas, ao contrário, diziam que se devia antes de tudo investigar as manifestações internas, — o espírito, o fator básico de tudo o que existe; que se pode apresentar até sob a forma de matéria. Mas o espírito é algo que não se pode apreender, que não se pode investigar.
O espírito, como tal, não pode estar sujeito a força alguma, e, pelo seu conteúdo, só pode ser explicado espiritualmente ou divinamente. O desenvolvimento histórico dessas duas doutrinas deu-se de tal forma, que o materialismo cresceu e se desenvolveu ao lado da ciência, ao passo que o idealismo se achava quase sempre ligado à religião, ou se entretinha com a metafísica especulativa, divagando sempre nas esferas da metafísica e da teologia.

 
[21] A filosofia medieval foi desenvolvida na Europa durante a Idade Média (século V ao XV) quando a Igreja tinha grande fora e, portanto, muito dos temas explorados pelos filósofos eram de ordem religiosa. Deu-se um período de expansão e consolidação do Cristianismo e a Igreja Católica foi no período medieval a mais importante instituição social e a maior representante da fé cristã. Muitos filósofos que se desenvolveram dessa época eram membros da Igreja.
E, os principais pontos de reflexão para os filósofos estavam associados com a figura divina, isto é, a existência de Deus, a fé e a razão, a imortalidade da alma humana, a salvação, o pecado, a encarnação, a liberdade, dentre outros. Apesar de paradoxal, a filosofia medieval tentou conciliar a religião com a filosofia, ou seja, a consciência cristã com a razão filosófica e científica.
[22] Aurelius Augustinus nasceu no ano de 354 em Tagaste, seu pai era pagão e sua mãe era cristã. Ali conheceu o cristianismo, porém, logo veio a se decepcionar com algumas tentativas de entender a Sagrada Escritura. Em 370 foi estudar em Cartago e teve contato com a obra Hortensius, atualmente obra perdida.
Foi esta obra que lhe conferiu uma profunda vontade de buscar a verdade. Nessa época se aproximou do maniqueísmo e nesta seita permaneceu por quase uma década.
Após sua conversão, os maniqueus se tornaram a inspiração para suas obras, principalmente alguns amigos que fizera na seita. O Doutor da Graça se converteu em Milão, lugar em que conheceu Santo Ambrósio. O homem, segundo Agostinho, é composto de duas substâncias, misteriosamente formando um único composto, o corpo e a alma, sendo a alma superior ao corpo.
A alma é quem conserva o corpo, dá o movimento e, especialmente no homem, potencializam as capacidades, que seriam de um animal, pela razão. Ainda que Agostinho entenda que o corpo e a alma subsistiriam de forma separada, afirma que esta unidade se faz misteriosamente necessária para que haja a humanidade. Agostinho, apesar de usar meios neoplatônicos para desenvolver seu pensamento, não entende a alma como se fosse aprisionada no corpo, muito menos como coisa uma substância má.
[23] A divisão ou dicotomia entre alma e corpo, elaborada por Descartes, é conhecida com dualismo cartesiano. Essa teoria não se preocupou apenas em definir a substância pensante e a substância extensa, mas também em explicar como uma age sobre a outra.

A outra substância era a res cogitans (do latim) significante coisa pensante ou alma. A alma foi caracterizada por Descartes como algo imaterial, e, portanto, sem extensão. Por esse motivo, a largura, o comprimento e a profundidade são medidas que não podem ser aplicadas à alma. Ela também for caracterizada como uma substância pensante, mas, ao contrário à alma.
Ela também foi caracterizada como uma substância pensante, mas, ao contrário do que frequentemente se concebe nos dias de hoje, pensar não era somente racionar. Pensar também é ser afetado de alegria, sofrer com uma frustração ou desejar realizar uma atividade para adquirir prazer. A divisão ou dicotomia entre alma e corpo elaborada por Descartes, é denominado como dualismo cartesiano.
[24] Quanto à origem da alma, Santo Agostinho vê lógica no argumento de preexistência da alma de Platão. Porém, reconhecendo a superioridade da revelação à racionalidade do homem, ele escolhe por aderir à afirmação de São Jerônimo de que a alma é criada e infundida no momento da concepção. Por isso, é preciso cuidado com as afirmações de que existiríamos na mente de Deus.
Se esta não for entendida na eternidade, e for entendida como ação decorrida em um tempo, grandes problemas podem surgir a partir daí. Todas as ações de Deus devem ser entendidas em ato conforme expôs Santo Tomás, assim pensamento e criação não são ações distintas, mas sim, uma única ação.
[25] A atual sociedade humana, particularmente, a ocidental, vem através da lógica mercadológica, impor um padrão de corpo perfeito, desenvolvendo nas pessoas, hábitos e comportamentos que as levem a perseguirem certa beleza física.
A mídia de Hollywood tão formadora de opinião, traz uma visão de corporeidade, através de marcos cinematográficos. No filme “Blade Runner”, seres humanos como meras cópias perversas e amorais, no outro filme “O Homem Bicententário”, o ser insensível, outro filme a "Inteligência Artificial", seres humanos vistos como sucatas recicláveis, em “Matrix”, o mundo virtual versus o mundo real, uma clássica reminiscência platônica e, em "Simone", cujo enredo mescla o fenômeno midiático, a cultura de massa e o padrão de beleza eurocêntrica. 
Traduzem metáforas que denunciam a banalização do ser e a total perda de identidade do humano que é despojado de sua subjetividade. Diante do avanço da cibernética e da biotecnologia tais questões se colocam como desafio. Quais os conceitos de modernidade e quais as concepções de ser humanos serão forjadas nesse terceiro milênio... Como venceremos o paradigma do Homem-modernidade?
[26] Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) foi um polímata (que conhece muitas ciências), filósofo, cientista, matemático diplomata e bibliotecário alemão. O uso de "função" como um termo matemático fora iniciado por Leibniz numa carta de 1694, para designar a quantidade relacionada a uma curva, tal como sua inclinação em um ponto específico.
Também é credita a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno, em particular o desenvolvimento da integra e da regra do produto. Também descreveu o primeiro sistema de numeração binário moderno (1705), tal como o sistema numérico binário utilizado nos dias de hoje. Demonstrou genialidade também nos campos da religião, política, legislativo, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia.
O pensamento filosófico de Leibniz parece fragmentado, porque seus escritos filosóficos consistem principalmente de uma infinidade de escritos curtos: artigos de periódicos, manuscritos publicados muito tempo depois de sua morte, e muitas cartas a muitos correspondentes. Ele escreveu apenas dois tratados filosóficos, dos quais apenas Teodiceia de 1710 foi publicado em vida.
[27] Rudolf Hermann Lotze (1871-1881) era um filósofo alemão e lógico. Quando escreveu seus esclarecimentos sobre a originalidade de seu pensamento em relação a Hegel e Herbart, Lotze já havia publicado o primeiro volume de sua obra Mikroksmus, em 1856, o volume II em 1858 e o terceiro e derradeiro volume em 1864.
Em variadas passagens de sua obra sobre a patologia, fisiologia e psicologia da relação vida-mente, estabeleceu seu método de pesquisa que não explicava esse fenômeno, mas apenas os meios hábeis para observar os dois termos do relacionamento e conectá-los, para que possamos obter os dados necessários para decidir o significado que pode ser dado à existência desse microcosmo, ou mundo pequeno da via humana que é inerente ao macrocosmo do universo.
Trata-se de tema vasto no campo da antropologia, começando pela geral estrutura do homem, alma, a união corpo-alma em vida, avançando para o homem e sua mente, e para o curso do mundo inteiro e terminando sua história, progresso e a conexão universal das coisas.
[28] Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi filósofo alemão do século XIX. Muito conhecido por sua obra principal intitulada "O mundo como vontade e representação" (1818) em que ele caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica. A partir do idealismo transcendental de Kant, o filósofo desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico.
Foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Foi fortemente influenciado pela leitura das Unpanishads, que foram traduzidas pela primeira vez para o latim no início do século XIX.
[29] Henri Bergson (1859-1941) foi um filósofo e diplomata francês, conhecido principalmente por Ensaios sobre os dados imediatos da consciência, intituladas como “Matéria e Memória, A evolução criadora e As duas fontes da moral e da religião”, sua obra é de grande atualidade e tem sido estudada em diferentes disciplinas tais como cinema, literatura, neuropsicologia, bioética e entre outras.
A filosofia de Bergson é a princípio uma negação, isto é, uma crítica às formas de determinismo e “coisificação” do homem. Em outras palavras, a sua pesquisa filosófica é uma afirmação da liberdade humana frente as vertentes científicas e filosóficas que querem reduzir a dimensão espiritual do homem a leis previsíveis e manipuláveis, análogas as leis naturais, biológicas e, como imaginou Comte.
Seu pensamento está fundamentado na afirmação da possibilidade de o real ser compreendido pelo homem por meio da intuição da duração –  conceitos que perpassam toda sua bibliografia. O próprio filósofo chegou a dizer que para compreender a sua filosofia é preciso partir da intuição da duração.
[30] As teogonias órficas são trabalhos genealógicos como a Teogonia de Hesíodo, mas os detalhes são diferentes. O relato principal é de Dionísio (na sua encarnação de Zagreus) é o filho e Perséfone; ele foi assassinado e fervido pelos Titãs. O Culto de Mistérios Órfico foi um movimento religioso surgido na Grécia Arcaica do século VI a.C., ligado aos ensinamentos de Orfeu. Este culto de mistérios estabelece um paralelismo para com a religião oficial da polis grega, pois se caracteriza como uma recusa a ordem social estabelecida pelos sistema político-religioso da religião pública. 
Esta opção religiosa impõe aos seus seguidores uma escolha subjetiva e individual, dependente de uma decisão pessoal do indivíduo em busca de salvação através de uma aproximação com a divindade, tendo por base a busca por uma melhor existência no pós-morte, que a religião oficial não pode oferecer.
[31] Jean-Paul Charles Ayard Sartre (1905-1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade.  É importante postular que a forma como Sartre entende aquilo que ele batiza de "Em-si", termo emprestado de Hegel, é diferente daquilo que outros pensadores da existência, como Heidegger, irão compreender o mesmo campo. Segundo o existencialismo sartriano, o mundo é povoado de "Em-si". Podemos entender um Em-si como qualquer objeto existente no mundo e que não é nada além daquilo que é.
Este modo de aparição do ser, que não é o único, é fundamentado em três características: o ser é, o ser é o que é, o ser é em-si. Estas três características poderíamos resumir dizendo que este ser é opaco a si mesmo, absoluta plenitude de ser, retomando, segundo Gerd Bornheim, a ideia de um ser esférico presente em Parmênides, que não pode ser penetrado por nada externo a ele.
A grosso modo, podemos dizer que possuem o modo de ser do Em-si todos aqueles "objetos", que não possuem consciência, que não se fundam na alteridade, na presença do outro.
Um ser Em-si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Ele apenas é.
[32] Homo sapiens é o nome conferido à espécie dos seres humanos, de acordo com a classificação taxonômica. É uma expressão latina que significa literalmente homem sábio ou homem que sabe.
A taxonomia completa do ser humano contemporâneo é: Reino: Animalia, Filo: Chordata; Subfilo: Vertebrata; Classe: Mammalia; Subordem: Antropoidea; Superfamília: Hominoidea; Família: Hominidea; Gênero: Homo; Espécie Homo sapiens; Subespécie: Homo sapiens sapiens.
[33] O dilema sobre a questão mente – corpo determinou o surgimento de diferentes visões teóricas, as quais podemos dividir em dois grandes grupos:  a) teorias dualistas: admitem a existência de dois aspectos distintos que podem ou não interagir; b) teorias monistas: admitem a existência de um só elemento, seja ele material ou imaterial. (Para conhecer as subdivisões, ver em Dalgalarrondo, 2000). 
Para os dualistas, corpo e mente são unidades distintas. A visão mais amena do dualismo é o dualismo interacionista, defendido por filósofos como Descartes e Herbart, por exemplo. Dalgalarrondo (2000) considera um outro grupo de autores que poderiam ser reunidos no que ele chama de “teoria da mente ‘emergente’”.
Entre esses autores está o norte americano
Roger W. Sperry, ganhador do prêmio Nobel (1981). Ele intitula-se mentalista, ao postular que os fenômenos mentais emergem do cérebro e exercem um controle sobre a atividade neural. 
Desse modo, o mental transcende o fisiológico, do mesmo modo que este transcende o molecular e assim por diante. (In: DALGALARRONDO, P. Contribuições de algumas áreas do conhecimento à psicopatologia; In: ______. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. p. 40 – 42).
[34] “Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser. Sabe a arte de esconder-se. E é de tal sagaz que a mim de mim ele oculta meu corpo, não meu agente. Meu envelope selado.  Meu revólver de assustar. Tornou-se meu carcereiro, me sabe mais que me sei” Carlos Drummond de Andrade.
 
[35] Carl Gustav Jung (1875-1961) foi psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung propôs e desenvolveu conceitos de personalidade extrovertida e introvertida, arquétipo e inconsciente coletivo. Seu trabalho tem sido influente na psiquiatria, psicologia, religião, literatura
e ainda em áreas afins.
O conceito protagonista da psicologia analítica é a individuação, ou seja, o processo psicológico de integração de opostos, incluindo o consciente e o inconsciente, mantendo, no entanto, a sua autonomia relativa. Jung considerou a individuação como o principal processo do desenvolvimento humano.
Também criou alguns dos mais famosos conceitos psicológicos, tais como, o arquétipo, o inconsciente coletivo, o complexo e a sincronicidade.  Enxergava a psiquê humana como sendo de natureza simbólica e daí concentrou suas explorações.
É um dos maiores estudiosos contemporâneos de análise de sonhos e simbolização. Alguns acusaram Jung de ter sido um simpatizante do nazismo, assumiu, em 1933, ano da chegada ao poder de Hitler, a presidência da Sociedade Médica Internacional Geral para a Psicoterapia, que contou como administrador, entre outros, como um sobrinho de Hermann Göring. No início de 1934, num artigo "Sobre a situação atual da psicoterapia”, Jung afirmou que o Judeu, como nómade, não pode jamais criar a sua cultura própria; para desenvolver os seus instintos e talentos, tem de apoiar-se em um "povo anfitrião mais ou menos civilizado". Carl Jung viria, mais tarde, a deixar aquela organização.
[36] Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) foi filósofo alemão, reconhecido pelo ateísmo humanista e pela influência que seu pensamento exerceu sobre Karl Marx.  O seu posicionamento filosófico é uma transição entre o Idealismo Alemão, de uma parte e, de outra, o materialismo histórico de Marx e o materialismo cientificista da segunda metade do século XIX.
Este posicionamento é caracterizado pela inflexão antropológica que Feuerbach imprime a algumas categorias herdadas de Hegel. Suas principais obras são: Da razão, una, universal, infinita (1828); Pensamentos sobre morte e imortalidade (1830);
Sobre a crítica da filosofia positiva (1838); Crítica da filosofia hegeliana (1839); A essência do cristianismo (1841); Sobre a apreciação do escrito “A essência do cristianismo” (1842); Princípios da filosofia do futuro (1843);
Teses provisórias para a reforma da filosofia (1843); Lutero como árbitro entre Strauss e Feuerbach (1843); A essência da religião (1846); Fragmentos para a caracterização de meu Curriculum vitae (1846); Preleções sobre a essência da religião (1851) e Teogonia (1857).
Para Feuerbach, a alienação religiosa segue-se dentro de uma teoria teológica buscando a razão e a essência do homem no mundo, mas o homem é essencialmente antropológico na característica humana, pois adquire sentimentos e sensibilidade.
É desta forma que Feuerbach observa a alienação decorrente em cada indivíduo que busca uma relação substancial entre Homem e Deus. O que proporcionou esse pensamento de Feuerbach foi a influência da teoria de Hegel e, mais tarde, a teoria de Marx. Posteriormente, nessas duas linhas de pensamento, uma teórica, a outra prática, Feuerbach busca a formula do Homem versus Deus versus Religião.
[37] Marie-François-Pierre Gonthier de Biran era filósofo francês (1766-1824) Seu trabalho filosófico foi realizado na forma de memórias, reflexões e diários.  Através da meditação introspectiva dos seus próprios estados físicos e psíquicos, chegou a concepção de que a consciência, entendida como uma substância independente, existe somente como esforço oposto à resistência do objeto externo.
Na resistência é que se daria a consciência do "eu", resultado final da introspecção que iria além dos múltiplos estados, nos quais os sensualistas (como Condillac), dissolviam a subjetividade. Maine de Biran estabelece ainda uma distinção fundamental entre a impressão passiva (provocada pelo exterior) e a ativa (resultante da atividade interna do sujeito). Seus esforços foram para constituir o que seria uma antropologia filosófica: a distinção entre vida animal, vida humana e vida espiritual.
Seu pensamento manifestou uma evolução, através de etapas que podem ser caracterizadas como verdadeiras conversões ao platonismo e ao cristianismo. Maine de Biran foi o iniciador da reação espiritualista que marcou a filosofia francesa no começo do século XIX. Sua vida, seus desenganos, sucessos e suas posições filosóficas estão presentes em Diário íntimo, considerada uma de suas melhores obras, e cuja edição definitiva somente apareceu em 1927, ou seja, mais de um século após sua morte.
[38] Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859-1938) foi um matemático e filósofo alemão que estabeleceu a escola da fenomenologia e rompeu com a orientação positivista da ciência e da filosofia de sua época. Realizou sinceras críticas ao historicismo e do psicologismo na lógica. Não se limitou ao empirismo, mas acreditando que a experiência é a fonte de todo o conhecimento, ele trabalhou em um método de redução fenomenológica pelo qual um assunto pode vir a conhecer diretamente uma essência. Husserl influenciou, entre outros, os alemães Edith Stein, Eugen Fink e Martin Heidegger, e os franceses Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Michel Henry e Jacques Derrida.
O interesse do matemático Hermann Weyl pela lógica intuicionista e pela noção de impredicatividade teria resultado de contatos com Husserl. Em verdade, a impulsão primeira da lógica positivista, bem como seus desenvolvimentos mais recentes, seria estreitamente tributária da crítica de certos aspectos da filosofia de Husserl pelas filosofias britânica e americana. Ao reverso, a obra do discípulo Heidegger foi considerada pelo mestre como resultado de graves interpretações incorretas de seus ensinos e métodos.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/05/2019
Alterado em 02/05/2019
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