Mil erros cometi a vida a fora. Errei ao nascer. Errei ao casar. Errei ao procriar. Errei a porta de saída. Errei a encarnação. Meu espírito pouco iluminado conheceu as sombras e se apaixonou pela lua. E, delirava com as estrelas e em suas constelações misteriosas, procurava decifrar as maravilhosas criaturas que orbitavam pelo caminho. Profeticamente a cada erro, aprendia uma lição diferente, uma inovadora sensação ou sentimento. Adquiria afetos, perdia outros. Encontrava acasos encantadores e, depois, primaveras tardias sem outonos e sem o rigor do inverno. Senti culpa, remorso e até vaidade. Senti elevação, humilhação e saudade. Muitas vezes, refleti sobre os erros, me debruçava sobre sua geometria, relevo ou indelicada harmonia com o universo imenso onde me inseria. Conspiraram contra o acerto a genética, a história e a sociologia. Pitadas de filosofia temperava o imbroglio. Ao final, diante de último e fatal erro, eu morri. E, renascia todas as manhãs, quando o despertador tocava. E, novamente mil erros me acometiam. Mas todos estes traziam secretamente uma magia: o de recomeçar diferentemente sem jamais sofrer de monotonia.