A história da frase: "O Brasil não é um país sério" que o francês Charles De Gaulle nunca disse, teve tom mais engraçado. Em 1964, na Avenida Rio Branco, passeava De Gaulle no Rolls Royce quando disse que com toda razão Le Brésil n'est pas un pays serieux, ou seja, o Brasil não é um país sério.
Conforme dizem em Portugal, a frase, no fundo, vem bem a calhar em momentos recorrentes da história nacional, em especial, agora com a Lava-Jato e os escândalos da Petrobrás. Mas, De Gaulle nunca disse que o Brasil não era um país sério.
O verdadeiro autor da frase foi o diplomata Carlos Alves de Souza Filho, embaixador do Brasil na França entre 1956 a 1964, era genro do Presidente Arthur Bernardes. No ano de 1962, havia uma contenda entre o Brasil e França, conhecida como a Guerra da Lagosta, conflito em que, tal qual a famosa Batalha de Itararé, onde não se disparou um tiro e nem rolou um gota de sangue sequer.
O causus belli era sobre a captura de lagostas por parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais brasileiras, mais precisamente no litoral de Pernambuco. Alertado por pescadores breasileiros, a notícia chegou ao Palácio do Planalto.
E, João Goulart após reunião do Conselho de Segurança Nacional, mando despachar para a região um formidável contingente da Esquadra Nacional, apoiado pela Força Aérea Brasileira (FAB).
De Gaulle, por sua vez, convocou o embaixador brasileiro para uma conversa no Palácio do Elisèe, a sede do governo francês. E, o espisódio serviu para a imprensa francesa lançar um desses debates que tanto abalaram a França.
Afinal: A lagosta anda ou nada?
Pois se nadasse, poder-se-ia considerar que estava em águas internacionais, mas, se andasse estaria certamente em território brasileiro, uma vez que se admitira à época que o fundo do mar também pertencia ao Brasil.
No debate diplomático, a tese francesa sustentava que a lagosta nadava. Assim, sem contato com o leito oceânico, poderia ser considerada até como peixe. Sendo possível de ser pescada legalmente pelos franceses.
O Almirante Paulo Moreira da Silva, especialista da Marinha Brasileira, contrapôs os franceses com um argumento simples: se a lagosta fosse considerada peixe quando dá seus pulos se afastando do fundo submarino, então teria, da mesma maneira, de ser acatada a premissa de que o canguru ser uma ave, em face de seus saltos.
E, na noite que seguiu a conversa com De Gaulle, o embaixador Alves de Souza FIlho fora convidado para uma festa na casa do Presidente da Assembleia Nacional, Jacques Chaban-Delmas. Nota-se que a guerra não era tão séria assim.
Durante a recepção o embaixador foi interpelado por outro convidado brasileiro, o jornalista Luís Edgar de Andrade, correspondente do Jornal do Brasil em Paris, abordou o tema com o embaixador a respeito da conversa com De Gaulle em particular e sobre o quadro geral da crise. Alves de Souza Filho sempre achou o governo brasileiro inábil no trato da questão a nível diplomático.
O embaixador relatou que provavelmente quando o jornalista telegrafou ao Brasil não deixou claro, se a frase era minha ou do general De Gaulle, com quem eu me estivera poucas horas antes, desse nosso encontro casual. O fato é que a frase ficou famosa.
Sendo evidente, que sendo hóspede de De Gaulle, que era um homem difícil, porém, mutíssimo bem educado, ele, pela sua formação e temperamento, não o pronunciaria frase tão francamente inamistosa em relação ao país do Chefe da Missão que ele mandara chamar. Confessou, ainda, o embaixador que pronunciou essa frase mas numa conversa informal com uma pessoa das minhas relações. Quase um desabafo.
Assim, concluímos que a história está sempre repleta de equívocos.