"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

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Afirmam os mais entendidos que o carnaval representa a maior festa do ano. E o evento envolve todas as classes sociais, todos tipos de culturas, além de estimular o turismo e outras fontes de renda.

É uma ocasião quando praticamente é obrigatório fantasiar-se, mas com a ênfase do politicamente correto, é preciso ter a maior atenção ao se enfeitar para evitar o desrespeito ou mesmo o perigoso deboche.

Devemos de todas as formas não caracterizar o racismo, a indevida apropriação cultural, a xenofobia, a misoginia e outras tantas fantasias que refletem a mais pura ofensa.  Por exemplo, a personagem folclórica como a Nega Maluca que surgiu nos anos cinquenta é, atualmente, uma pura ofensa, Tal fantasia ridiculariza a raça africana e, ainda, sexualiza as mulheres negras de forma preconceituosa.

Aliás, o ato chamado de black face é uma técnica que consiste numa pessoa branca pintar-se de preto para  realizar uma sátira. 

Outro comportamento a ser evitado mesmo que tomado como homenagem é o uso de fantasias que remetam a personagens religiosos, como santos, orixás e tantos outros. E, tal ato pode atingir tanto às entidades religiosas como também aos fiés. Também encarnar moradores de rua, mendigos ou
excluídos é também muito insensato.

Ademais, há um problema concreto e tal precariedade atinge não só o lado financeiro mas o higiênico e, ainda, aspectos importantes da saúde. Não há graça nenhuma nesse grave problema social e, aqui a sátira é de escrachado mau gosto.

Também vestir-se de gay vem caracterizando o preconceito. Aliás, se sabe, os gays são seres humanos e, estão a conquistar igualdade de direitos e respeito em suas relações afetivas e sociais.

Outra fantasia criticável é a de feminista e que se apropria de símbolos do feminismo, reunindo uma sátira à quem ainda luta pela igualdade de direitos apesar de estarmos em pleno século XXI.

Igualmente vestir-se de índio ou de qualquer outro grupo étnico incide na mesma ridicularização da cultura indígena (ou outra cultura) e lembrando que cada pintura corporal do índio tem significado próprio, sendo levado muito a sério pelo povo indígena. O que também configura desrespeito deselegante.

Assim é criticável as fantasias de ciganos, árabes e tantas outras culturas diferentes que na fantasia expõe apenas o lado exagerado e não respeitoso.

Principalmente porque cada vez há menores espaços para a cultura indígena  e outras culturas alienígenas, uma vez que as invasões do homem branco e do governo sempre avançam em seus territórios e, mesmo em reservas indígenas.

Outra fantasia é a de cangaceiro que representa uma mistura de criminoso e herói, pois buscavam justiça e vingança além de alimento e cidadania pelos  áridos sertões nordestinos. Ademais, também seria desrespeito à cultura dos nordestinos.

Devemos ainda lembrar que algumas das mais famosas e antigas marchinhas de carnaval sofrem a censura do politicamente correto... assim, tais como a "Cabelereira do Zezé", "A pipa do vovô", "Maria Sapatão", "Andorinha", "Nega maluca", "Maria escandalosa",  "Cachaça não é água", "O teu cabelo não nega" e "Dá nela".

Lembremos que tais músicas foram produzidas por uma dinâmica social do passado, por isso, alguns não acreditam que deva haver a proibição e nem cerceamento. 

Afinal, o momento é para brincar e descontrair e não deve ofender a ninguém e muito menos revelar preconceitos ou ridicularizações. O ideal que a brincadeira seja saudável e que possa nos levar a alguma reflexão sobre a realidade brasileira.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/03/2019
Alterado em 05/03/2019
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