Finalmente quando chega a maturidade até nossos ossos, e nos fragiliza naturalmente, aprenderemos a perdoar. Entender sem julgar. E, virar a página das pequenas tragédias humanas inexplicáveis. Desencontros, mortes e mágoas que desaguam num lugar comum e oco. E parece sem fundo, tal como o abismo, que nos olha e nos questiona avidamente.
Envelhecer é laborioso e complexo. Por vezes, nossa mente está agitada e tão jovem quanto antes, mas nossas pernas não respondem...nossos pulmões arfam sem ar e, nosso coração transforma o batimento cardíaco num bumbo de pelotão de fuzilamento.
Nossos olhos, de retinas irremediavelmente cansadas, se deparam com dejà-vu, há um roteiro recheado de scripts, onde há frases, falas, interjeições, expressões faciais e sobretudo a tristeza repetida.
E nessa reprise sem graça onde não há a pipoca e o guaraná... não há o burlesco que consiga ser cômico e o trágico é tão clichê que chega dar dor de cabeça.
Um dia desses, eu me flagrei antecipando as reações humanas dos que me cercavam... e, aí ficar sozinha com meus pensamentos e palavras pareceu-me ser uma coisa agradável e condizente.
Poucas coisas nos surpreendem, sejam positivas ou negativas. Há uma turva relativização de tudo, valores, sentimentos, vetores e, até sensações.
Ficamos mornos, já não aquecemos tanto ao ponto de fritura e nem ficamos frios iguais os icebergs... O olhar já sem viço, possui uma angulação peculiar, pois o foco torna-se a panótica. E, o tudo em sua dinâmica parece síncrone, e apenas nossos pés estão fora do ritmo.
Dançamos numa sinfonia. Somos patéticos em peripatética.
Talvez um dia, quando já haja mais tempo para refazer caminhos e reparar os danos., conseguiremos entender melhor, abrigar com generosidade as diferenças e, no grande mosaico do universo achar, ao menos, uma pequena galáxia onde sobreviver inclua obrigatoriamente a dignidade.
Talvez um dia... mas se ele não chegar.
Que as gerações futuras assumam as lutas necessárias para preservar não só o planeta e o meio ambiente do qual depende a vida. Mas, também para que se possa morrer com o sentimento de dever cumprido e, pelo menos, de tropeços bem instrutores.
Pois errar é preciso. Ser perfeito não é preciso. O ideal é um ponto distante no horizonte que sempre nos foge mas nos impulsiona até o momento fatal. Ou até algum aperfeiçoamento.