O amor é radioativo. Contamina, impregna páginas de livros, palavras, gestos e comportamentos. O amor transborda por entre tecidos, caixas, embrulhos, invólucros, não gosta de rótulos e talvez exija muito das rótulas...
Podemos ter o amor mais profundo num tão rotundo silêncio que passa imperceptível. Não nos damos a chance de expressar, de chorar, de exibir-se como numa vitrine bizarra, onde os sentimentos desfilam nus e soberbos. O amor é quântico.
Pois suas grandezas físicas observáveis assumem valores discretos, de forma que a passagem de um determinado valor para outro ocorre de forma descontínua, imprevista, num tamanho vetorial impreciso e provavelmente infinito.
O amor é um sistema solar inteiro, trazendo em sua volta planetas, asteróides, satélites e vidas infinitamente vastas e vagas. Há na imprecisão do amor uma sedução macrobiótica, a devorar os seres, a pavimentar pontes, elos, ligações e até grilhões pois, por amor somos capazes de nos escravizar,
somos capazes de nos submeter, de perder a individualidade, perder a humanidade e, ser apenas, um servo apto a satisfazer as mais remotas vontades ou os mais obscuros desejos.
Por amor somos capazes de escalar o Everest, visitar a fossa mais profunda e penetrar no âmago da depressão mais cruel... E desafiar todas as imperfeições, nossas carências e, por fim, toda uma vida, na busca diária de mais e novos afetos, na busca frenética de um sentido, um vetor ou um valor que nos guie em direção do aperfeiçoamento das forças e da paz.
E, alcançando a sagrada paz, desejar firmemente que todos se contaminem com o amor. Multiplamente.