No magnífico Poema de sete faces de Drummond de Andrade, logo na primeira estrofe in litteris: "Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos ser gauche na vida"... Euzinha, aliás, a forma que comumente refiro a mim mesma, na tentativa vã de reduzir meu ego... Nasci prematura, há mais de meio século atrás... quando raramente os prematuros
vingam... de sorte que fui as pressas batizada, correram para escolher meu nome. Meu pai queria Sarah, mas minha mãe se apaixonara por um livro de aventura intitulado "Gisele, a espião nua que abalou Paris". Como se vivêssemos num matriarcado, prevaleceu a vontade materna...e, então, recebi meu nome. Se me fosse permitido gostar de um certo horário, marcaria duas
horas da tarde. e, enfim, seguiria rumando em frente, tal como Mário Quintana, "a jogar a casca dourada e inútil das horas"... Ainda me lembro a primeira vez que vesti branco, da cabeça aos pés, pois o vestido era branco, as meias, os sapatos e um laçarote imenso a segurar meus pesados cabelos... e, intimamente pensava, será que mamãe pensa que sou nuvem? Íamos a um batizado importante, da filha do médico-chefe... Eu de nuvem, apesar de criança. E, ela criança livre a saltitar entre nuvens. Naquele tempo, as roupas eram decididas pelos pais, mais particularmente, pelas mães... muitas vezes, eram reprises de roupas de adultos... Seríamos como anões, só que imaturos.