Por três dias e três noites fiquei desacordada. Internaram-me no hospital. Por vezes, apesar de olhos fechados parecia que via tudo, ouvia as conversas, os murmúrrios e até a tristeza que pesava sobre os visitantes. E, quando acordei, subitamente. Fiat lux. A luz entranhava-se novamente por entre imagens, fonemas e sentimentos. E, esclarecia alguma coisa, enquanto outros raios de luz, só faziam confundir e tornar mais complexa a situação. Perguntei ávida, o que haveria acontecido. E, a enfermeira disse que foi apenas um pico de pressão... Já me imaginava escalando o Everest, com todo aquele equipamento... mas em verdade, era apenas uma anormal elevação da pressão arterial.... Então, por preservação, o corpo entrara em módulo de sobrevivência e, então desmaiei... Não conseguia recordar-me onde desmaiei... Depois, fiquei sabendo que foi ao final de uma aula, quando já rumava para o elevador. A memória estava reticente, só lembrava de alguns flashes, parcas vozes e até alguns gritos. Perguntava-me, intimamente: por que gritavam, se era eu a desmaiar? Depois, perguntei a enfermeira quando eu viria o médico...e, quando teria comida... Estava como uma fome gigante...mas pude observar que estava no soro. Enfim, por três noites, as trevas onde naveguei, não me deixaram tão distantes de todos. Lia corpos, gestos, almas, e mergulhava nos olhos preocupados de minha filha. Recordo-me ainda de pedir um lápis e papel, pois aquele sentimento de despertamento e de alumbramento eram inéditos e queria descrevê-los em detalhes... As cores pareciam recém-pintadas. As pessoas pareciam remoçadas e, até o que era feio, exibia uma certeza beleza mística. Três nos remete às tríades, sagradas e profanas, são capazes de articular as mais diferentes variações e a magia matemática dos triângulos.