Era uma moça da cidade. Saia sozinha, trabalhava e estudava. Tinha obrigações familiares e morais. Vestia-se com decoro, apesar de que isto não impedisse certos assédios verbais e até comportamentais de alguns.
Atravessou a rua desatenta, coitada e, fora brutalmente atropelada. Era de manhãzinha... Caído no chão, ficou seu corpo por horas. Quando finalmente chegou o socorro, era tarde demais.
Entardecendo, quase noite... A vida se esvaiu definitivamente. O atropelador, por sua vez, fugiu impunemente. Perguntava-se atônito, se alguém teria anotado a placa do carro, ou qualquer outro detalhe indentificador do homicida.
Qual nada! Todos estavam convenientemente cegos e emburrecidos. Apesar de unanimemente chocados. O chão frio já acolhia aquele pobre corpo que já manifestava a rigidez cadavérica.
Enfim, a moça da cidade não envelhecerá. Não teve filhos e, seu futuro foi ser destaque numa página trágica da metrópole. Onde o tempo não para, onde os carros não param e, a dinâmica da vida engole a todos e, numa digestão corrosiva, transforma tudo em cotidiano banal e esquecido.