Gastei a vida até os ossos.
Gastei a memória em flashes.
Perdi álbuns,
relicários raros.
Abandonei vestígios pelo caminho.
Sombras que jamais se apagaram.
A filha que nunca mais vi.
Sorvi o sentido dos momentos.
Sorvi gotas de chuva e de lágrimas.
Chorei em silêncio e sozinha.
Edifiquei-me.
Não quis desabafar.
Não quis denunciar e nem espernear.
Fiquei em riste.
Em pé.
Absorvendo a luta.
A cada ferida.
A cada ofensa.
A cada perda.
Algo crescia dentro de mim.
A resistência.
A insistência.
A demência de sempre vencer
Mas, também se aprende
ao perder.
Ao fenecer.
Ao abandonar-se ao acaso.
Ao ouvir o sussuro dos ventos
De ouvir notícias de longe.
De preencher reticências
De decifrar medos
e encolher ombros.
Ao final, como derradeiro
gesto.
Fechei as janelas e fui dormir.
Sem saber se haveria amanhã
Se jazia surpresa ou dejà-vu.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/11/2018