Era uma vida simples. Vinha o sol, de manhãzinha. Vinha a noite. Vinha a lua e as estrelas. Eu achava que as nuvens se transformavam em estrelas. Depois, com o raiar do dia, iam inchando e ficavam espaçosas. E, brancas e plenas.
Nos dias de chuva eu achava que o sol estava chorando. Talvez por alguém querido que morreu. Ou então, regando as plantinhas, com saudades ,para que enfeitasse o túmulo dos amados e amadas. Tudo era tão romântico e lógico.
Até mesmo a tragédia trazia escondido um lirismo acanhado. Tímido, daqueles que rubram, simplesmente por dizer o que sente. Como se fosse algo indecente ou indizível.
No inverno conhecíamos os ossos. E, no verão, o suor e os músculos. Sempre fui ínfima e esquálida. Achava força física algo lindo e pungente. Mas, não era para minhas pernas de garça e braços de gafanhoto... Literalmente era desajeitada.
Era uma vida simples. Os olhos e o coração harmonizavam-se. O corpo e a alma se encaixavam. Mas, com o tempo, a maturidade tira o encanto das coisas, e fica tudo muito previsível e sórdido. Tudo mercadorizável, exposto na prateleira ou na vitrine.
Se eu pudesse ficava invisível. Só para não ser notada... e principalmente, julgada. Para tudo continuar muito simples e um pouco poético.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/11/2018