Muros altíssimos
Fortaleza arrodeada de fosso
Jacarés e outras feras
Um pitbull domesticado
de cordas vocais cortadas
Nem o Himalaia
Está livre de invasão
O invasor imprevisível.
Sorrateiro, entra,
adentra e invade
Com a astúcia
de um gatuno.
Com a destreza
de malabares.
Com a solidão
dos abandonados.
Depois sai lépido.
Gingando o corpo
jovem e propício ao ilícito
Propício ao precipício.
Faz gestos obscenos.
Mostra a genitália
Mostra ser rejeitado.
Cuspido.
Escarrado.
Aborto tardio.
Excrescência humana
sem afeto,
sem família,
Com ódio de tudo
e de todos.
Capaz de matar.
Capaz de invadir.
Capaz de furtar.
Capas de morder.
Ganir e chorar.
Quem roubou-lhe a
dignidade?
Quem roubou-lhe
um futuro melhor?
Não fui eu.
Não foram os meus.
Não foi o destino.
Foi o abismo plantado nos olhos.
As mãos sem esperança.
Os pés da desavença.
E um corpo
desguarnecido de alma.
Um dejeto humano
invadiu minha casa.
Inumano.
Logo não há homicídio.
Logo não há julgamento.
Somos todos inocentes
Somos todos culpados
E, a morte pode ser
uma supresa feliz numa
vida enfadonha.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 17/10/2018