Naquele dia eu estava amoada. Minha alma comprimida por tantos sentimentos contraditórios. Uma asfixia criativa me fez abrir a janela. E, o sopro do vento veio me saudar... trazia cheiros diferentes, poeira e o barulho do trânsito.
Gostaria muito de saber quem inventou a buzina. Que coisa bizarra porém útil. Debruçada na janela, meu olhar percorria as pessoas, as árvores, os carros e principalmente os animais que transitavam no lugar. Havia um cão engraçado, apelidado de biputo... que tinha cara de mau... olhar meio vesgo... mas não mordia ninguém... Mas, impunha respeito, tanto assim, que ganhava o almoço todos os dias do dono do açougue local.
Biputo não nasceu em Maputo e nem na África. Não era preto, não era branco. Tinha manchas de cada cor que eram confusas e imersas em mesclas inexplicáveis. Quando envelheceu... morreu dormindo. bem na porta do açougue a espera de seu derradeiro desejo.
Estar na janela, as vezes parece isso... parar, respirar, flutuar com o vento e, abandonar o corpo diante da batalha diária pela vida.
Por isso, saia da janela. Deixe de ser apenas observador e seja o ator, o protagonista nesse palco cheio de ilusões e crueldades, mas também repleto de gratas surpresas.