Quem nunca se sentiu tão miserável que o despertencimento lhe golpeia a alma até desintegrá-la? Quem nunca mendingou por um afeto? Por um olhar atento ou um simples gesto de reconhecimento e sensibilidade? Muitos não terão coragem de assumir.
Mas mesmo aqueles mais abastados em seu píncaro de glórias opulentas, sob o brilho sedutor de jóias e holofotes, já se sentiram míseros, vis, reles e de tão torpe que perceberam-se patéticos.
Se os valores que procuramos, não nos preenchem, não nos identificam ou pior, apenas nos mistificam. Enfim, procuramos uma estética inatingível, uma ética impraticável e, na penúria de nosso sofrimento, nos vingamos do mundo.
E, fazemos sofrer tudo a nossa volta. Esbravejamos. Não temos paciência para nada. Não temos inocência e, muito menos, docilidade. Rasgamos o cenário e o script com uma agressividade absurda e demoníaca.
Já se afirmou o homem é um ser paradoxal, pois é capaz de ser miserável e, ao mesmo tempo, ser generoso, semear amor, bondade e até grandeza de caráter. Noutra parte, por sua vez, pode cultivar o fel, a guerra, a discórdia e, principalmente a miséria.
O remédio parece existir na coerência do equilíbrio, do desenvolvimento do coração, do espírito e da alma humana.
É como já dizia o velho indígena que afirmava que temos dentro de nós, dois cães, um bom e outro mau. Mas, o índio sábio alimentava apenas bom e procurava minimizar a força do outro.
A miséria material é perigosa e homicida mas, a miséria de alma é profunda e voraz e, se patrocinada por ideologias que consagram a perda da dignidade humana ou postulam sua venda impiedosa pelo assistencialismo de quem dá o peixe, mas jamais ensina a pescar.