Eis que de repente cai da nuvem, uma gota d'água. Era tão límpida e fria. Percorria solertemente o inverno no tempo.
E, dividia meus pensamentos. Na nave central diante do caminho natural para se aportar. Meus pés tateavam a trilha, as pedras e mergulhavam nos buracos como fossem monges a entoar um mantra.
A cada passo, uma glória e uma conquista. Um medo vencido. Outros medos a vencer, outros tantos limites a transcender. Mas a alma arredia apensada ao corpo, apenas treinava transmutação.
Eis que com o prenúncio da chuva, vem o vento a varrer absurdos, a distribuir a água sem regador. A distribuir poeira, silêncios e assobiar segredos da natureza. Caminhar na chuva fazia o corpo aquecer, arfar e enfim, molhado e pesado chegar ao destino. Deixando vestígios hídricos e marcas de quem veio do tempo, para um lapso, por um espaço para ser a medida de outras medidas.
Eis que de repente, os fonemas caem e se encaixam em outras melodias, outras métricas e desengonçam-se ao se misturarem com ruídos no claustro contemporâneo. Tudo é tão descartável. Tudo é tão transitório e passageiro. A eternidade é finita e extinta pelo prazer imediato, prêt-à-porter. Pronto para vestir, pronto para iludir e feito para distrair.
Penso que não precisamos de tanta distração. Nem precisamos de tanta chuva e vento e, nem tantos invernos cruentos. Precisamos de ilusões tórridas e esperanças primaveris. Talvez se as flores nascerem e os frutos vingarem terá valido a pena, receber a chuva com o corpo quente e a poesia líquida que escorre pelas mãos sólidas. Terá valido a pena vivenciar todos os paradoxos.