Muitos se queixam da solidão. Tornou-se rotineiro ver pessoas imersas em complexos vínculos, e ainda, assim reclamam de solidão.
Afetos se tornam raros, a sensibilidade vai rareando. Mas, me recorda, uns versos de Florbela Espanca, cujo poema se intitula "Solidão", in litteris: "Nunca fui como todos/ Nunca tive muitos amigos. / Nunca fui favorita/ Nunca fui o que meus pais queriam? Nunca tive alguém que amasse/Mas tive somente a mim. A minha absoluta verdade/ Meu verdadeiro pensamento. O meu conforto
nas horas de soofrimento? Não vivo sozinha porque gosto. E sim porque aprendi a ser só".
A solidão pode ter inúmeras causas, entre essas, o fato de não se aperceber no contexto humano, não entender a própria personalidade e das dos outros, e a existência de cobrança exagerada que só traz sofrimento.
Afinal, todos querem ser lindos, ser magros, sílfides, de cabelos lisos, de pele alva e de olhos azuis... Todos querem ser geniais, de memória de elefante, além de que sejam inéditos e criativos.
A sobrevivência contemporânea requer habilidades multifacetadas e rigorosas...tal qual os elefantes que caminham por grandes extensões territoriais e guardam exatamente onde buscar água e comida e, ainda, desviam dos perigos e dos abismos, bem como de predadores perigosos
como cobras e ratos.
Biologiamente o cérebro dos paquidermes é mais denso e com maior número de lóbulos do que os humanos, daí a capacidade aumentada para armazenar informações...
A sobrevivência contemporânea ainda exige que tenhamos estômago de avestruz o que significa popularmente aquela pesoa capaz de comer muito
e não ter maiores restrições sobre o que come.
A avestruz produz em seu notável estômago o mais poderoso e ácido suco gástrico, sendo hábil a dissolver até mesmo metais, portanto, podem engolir de tudo e, não passam mal por isso.
Em verdade, tal como tantas outras aves, a avestruz não possuem dentes e engolem os alimentos inteiros e com certa ferocidade. Mesmo quando ingeram pedaços de pedras e metas, tudo ajuda a moer os alimentos que ingeriu, dinamizando sua digestão... É a velha máxima: "há males que vem para o bem"...
A solidão deve ser assim digerida e transformada em aprendizado. Em plantão observatório e no exercício de humildade. O que é apropriado para curar solidões impertinentes é o famoso "abraço de tamanduá" que é uma expressão idiomática que significa um abraço ou cuumprimento de uma pessoa falsa, ou que deseja-lhe mal.
Em verdade, o pobre animal é desengonçado, dotado de pouquíssima visão e audição, porém, ao se sentir ameaçado, usa de suas enormes garras para se defender...
Quando, então, ergue suas patas traseiras e abre os braços, mostrando as garras, tal como se fosse dar um abraço. Trata-se de um abraço mortal...aliás, capaz até mesmo de matar uma onça-pintada.
Se você perceber podemos de nossa solidão produzir momentos preciosos e até inesquecíveis. Em verdade, ninguém está realmente sozinho... Há uma plêiade de relações, seres e coisas a nosso redor, precisamos enxergar, entender e interagir. Precisamos apreciar nossas virtudes e lutar contra os defeitos, sabendo que nunca seremos perfeitos e, sim, adaptáveis.