Não é fácil escrever sob forma de aforismo, mas Nietzsche e Kraus eram bambas. E o autor argentino Jorge Luís Borges que gostava de escrever textos curtos era um praticante assíduo da escrita semanal e enxuta em jornal, concluiu que nada exige mais do que algumas poucas palavras.
Mas, contemporaneamente, não interessa-me nada o que ninguém pensa, ou quase nunca. Em geral, somente quando estamos felizes, nos interessamos pelo o que os outros pensam. Posto que a felicidade verdadeira é apenas uma forma de generosidade com o mundo.
No aforismo, o que está em jogo não é a superficialidade, como pensa o pobre espírito, mas há uma urgência em se expressar algo e, em seguida, ir embora. No fundo, o aforismo tenta esgotar um tema e, espremer-lhe a essência por míseras reticências.
É verdade que existem muitos leitores ávidos por romances mas, há quem prefira, o extremo oposto, são adoradores de fórmulas epigráficas, enfeixadas pela concisão das sentenças.
Existiram muitos cultores das formas breves de escrita ao longo dos séculos, entre estes, Maomé, Lao Tsé, Jesus, sem se esquecer ainda de Epiro e Sêneca além das máximas elegantes de La Rochefoucauld e, também o estilo inconfundível e axiomático de Wittgenstein.
O mundo em uma frase é um convite para iluminação rapsódica que tenta ocultar o complexo jogo existente entre a verdade e a opinião, entre o senso comum e o reles paradoxo, que o põe em xeque-mate.
Assim, os aforismos e seus correlatos tais como adágios e máximas não se confunde com o dictum impersonale, o provérbio impessoal de origem medieval e que tem teor prescritivo e moralizande de verdades consolidadas.
De toda forma, a diferenciação estilística existente entre máximas, sentenças, adágios e apotegmas pode ser importante para se entender as nuances de enunciação dentro de cada tipo de aforisma.
O apotegma advém do verbo grego que significa declarar alto, enunciar uma sentença, uma resposta em forma definitiva, proferir um oráculo, que é uma sentença breve e de caráter aforístico. Tem como objetivo enunciar um conteúdo moral de forma extremamente sintética e eficaz.
Os apotegmas em geral possuem uma avaliação filosófica, pois traz em poucas palavras um conhecimento profundo que convida à reflexão transmitida. Já o provérbio é de origem popular e se destina a fornecer conselhos úteis para a vida.
Já o axioma é uma afirmação que considerando o óbvio e verdadeiro é usado no campo da matemática, da lógica ou a ciência.
Traz traços comuns com o provérbio, apesar de não ser completamente redutível à essa forma. Já o aformismo é mais uma delimitação, distinção ou definição.
A diferença estrutural se refere ao caráter poético do signo ensaístico, em que cada palavra erige uma autarquia semântica, onde cada imagem tem um sentido que decanta apenas através de outros poucos signos pertencentes ao próprio contexto.
Em verdade, a máxima de extração estoica ou epicurista é sempre vinculada a um contexto narrativo onde a contiguidade de duas citações contraditórias, percebe-se o avesso da verdade afirmada. E, transformada em exemplo,
a sentença perde sua autoridade inicial, posto que esteja singularizada.
O aforismo é um estilo de sentença que articula literatura e filosofia numa percepção da vida, da sociedade, ou tudo possa ser objeto de pensamento, é realçado pela intensa expressividade de uma mensagem verdadeira e concisa.
Mas, em tempos tão céleres e complexos, questiono-me: aforismo para quê te quero?