Eu era um pouco de sol
num horizonte apagado.
Um pequeno risco de azul
quando a chuva se avizinhava
E, para tingir o entardercer
Sangrei indecentemente.
Sangrei publicamente.
Marcando de vermelho intenso
o que é efêmero: a vida...
Se eu pudesse voar.
Encontrar a paz num sopro.
Ou descobrir a brisa num vendaval.
Um grão de areia na avalanche.
E, algum conteúdo em tantas palavras.
E, se debaixo de cinzas,
eu descobrisse vida?
E, debaixo de segredos,
eu descobrisse vergonha?
Partiria minha alma ao meio.
Abriria uma fenda em minha consciência
anestesiada.
Secaria no deserto meus afetos e medos.
E, derramaria lágrimas que
queimariam minha esperança.
E ainda no vapor das lágrimas
Restaria a umidade de
alguma existência.
Existência dispersa.
Mas, tudo é tanto quase.
Quase fui feliz.
Quase que consegui acertar.
Quase que por um triz ganharia triunfo.
E seria outra pessoa e teria outra estória.
Quase fica e o tempo passa.
Envelhecemo-nos.
Tudo sob a mordaça da civilidade.
Não posso chamar o feio,
de apenas feio.
Não posso conclamar o horrível,
por ser simplesmente,
horrendo.
Tenho que disfarçar
opiniões, sensações e dramas.
E as tragédias de surdina que
perpassam o folclore local.
Na mesma fauna.
Na mesma flora.
E os crimes ecológicos ecoam
a denunciar a lenta morte do planeta.
Morremos todos nós.
Progressivamente.
Não há princípio e nem fim.
Tudo é só expansão.
É amplidão de infinitos.
São multiversos sem rimas.
Sem a métrica.
E, sem o poliédrico amor.
Sem luz, a inércia parece mágica.
A dispersão parece lógica.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/07/2018