Só o sol e as sombras no estio da tarde.
E um calor saindo do chão
A beleza do cactus
A densidade filosófica do deserto
E o vento a sussurrar parábolas.
Só o sol com seu brilho pungente
A queimar nossas vistas míopes.
A transformar tudo em luz.
E a morrer ao fim da tarde.
Dançando tango para a noite
O vir-a-ser
A primeira estrela a brilhar.
A primeira palavra a ouvir.
O som de sua voz atravessa
os umbrais da consciência.
Dói pensar que já não posso mais ouvi-la.
Que não posso mais conviver.
Os caminhos feitos sobre a areia
O mar apagou
Os caminhos percorridos na memória
a tristeza apagou
Com doses de silêncio e renúncia.
Lembro de seus passos
Compassadamente arrastados
Decorando o assoalho
Com melancolia e culpa.
O fato de você me agredir
fisicamente
tirar de mim sangue e ódio.
Deixar hematomas e dores
E a culpa sub-reptícia.
Plasmada nas paredes cúmplices.
Só sol.
A caminhada difícil.
E a sede como triunfo tardio.