Sem popa
Ir de vento em popa, o vento a empurrar a embarcação no infinito oceano em direção ao improvável horizonte. Caminhando entre as ondas e vagas, a sussurar segredos e confidenciar amores jamais declarados, nem de dia e nem de noite. Braços abertos, olhos abertos e um coração em naufrágio.
Meus sentimentos repicavam como sinos, a conclamar para Ave Maria. Eu, a comandante da nau que ultrapassava as tempestades, desafiava trovões e raios e, ainda, o silêncio enigmático de quem espera. Com alma expectante, debruçada nas janelas, nas escotilhas, amarradas em âncoras que só servem para quem deseja fincar-se.
Sentimentos são como ventos, mudam de direção de repente. Revoltam-se... e se aquietam tal como calmarias e, trazem a náusea de dúvidas e inquietações misteriosas.
Esperar os sentimentos para tocar a vida, é como conduzir-se num caleidoscópio que a cada movimento muda completamente de estética e compleição. Ventos tocam velas, ventos levam palavras e levam pessoas a outros lugares, ao imaginário e principalmente ao intangível.
Os ventos trazem possibilidades, cheiros, folhas de outono e alguma promessa de dias melhores. De sol, de chuva e, principalmente de serem outros e novos dias.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/06/2018