O espelho nos revela ao menos duas almas. Uma criatura sólida formada de carne e ossos, de dúvidas e certezas, de crenças, sonhos e devaneios. E, a outra alma, refletida no espelho e que se olha, se analisa, se espreita. Um pouco flluída e pouco tensa. Carrego na fisionomia a mistura de etnias, um mix de antepassados e de espíritos navegantes em histórias nunca contadas.
Minha cabeça vigia e processa todo o caminho, os transeuntes, a rua está tendo muitos assaltos, principalmente perpetrados por motociclstas...
Chego até a rua principal e, paro justamente no ponto de ônibus. Na avenida, uma caminhonete carrega um espelho enorme e, passa lentamente, e novamente me vejo no reflexo... ajeito o cabelo, compulsivamente.. depois desisto... Eu não me concilio com minha imagem. A verdade é que em nosso autorretrato nunca somos aquilo exatamente que pensamos que somos. Há um desajuste. Há um delay. Por isso, precisamos ser generosos com os outros. E, também com nós mesmos, estamos em eterna construção. Somos inacabados assim como nossa imagem... somos reticências estéticas, filosófias e poéticas. Aprecie isso, em você mesmo. Reconheça-se nos outros, nos conhecidos e desconhecidos. Explorando nossa humanidade somos menos solitários.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/06/2018