Tem dias que nos tem como fosse um catre.
Começa cedo, com os primeiros raios de sol
E nos aprisiona na existência, até o quedar-se em rubro
e sangue.
Há hemorragias clássicas onde escorre a vida pela cor que
coagula. Há mágoas cíclicas. Dos que nos rejeitam. Dos que nos desafetam.
E rosnar sua ira implacável e inexplicável.
Ninguém quer ser o próximo alvo. Ninguém quer tombar na luta.
Todos querem ser vencedor em tudo. Ser bravos e destemidos guerreiros
ainda que a guerra seja injusta. Ainda que as armas sejam sujas.
Ainda que a causa nem valha a pena...
Tem dias que nos põe de castigo, a observar impávido toda bizarrice...
Não há respostas. Não há porquês. Há um constrangimento por presenciar
tanta desumanidade. E, prossegue o tempo por entre ponteiros e dúvidas.
E, prossegue a desesperança entre alegrias e tristezas. Na gangorra assimétrica,
no tira-teima dos afetos.
Tem dias que se fazem noites estreladas. E, noites estreladas que raiam como se fossem sóis...
E no silêncio concêntrico, paira a poesia inerte, aguardando a mão que lhe vai acariciar
e fazê-la desabrochar... Uma flor dentro de catre e a liberdade das pétalas nos ensina
a esperar a primavera e, a entender o inverno.
Tem dias onde há tanto pertencimento que tudo que desejamos é não possuir nada, nem a si mesmo.
Queremos ser plenos, vagos, imprecisos e abstratos.
Queremos apenas viver entre dias e noites.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/05/2018
Alterado em 24/07/2018