Na ópera pode-se gritar o amor, em soprano fortíssimo...
ir até as agudas notas... e destilar todo o sentimento.
Pode-se chorar copiosamente e, ainda, rir do próprio sofrimento.
E clamar aos céus por misericórdia.
Por compaixão ou por simples arrependimento.
Na ópera os exageros são processados, digeridos e deglutidos
Depois de mastigados em canções, arpejos e arranjos
que fazem da dor menor...que fazem do infortúnio, um coisa menor e casuística.
Que fazem da tragédia, uma tristeza tolerável
Embalsamada nos cinzas dias.
Depois da ópera, a alma flana leve. Levita e suspira.
Todas as energias, todas as nuvens de chuva, todos os raios e abismos
são diluídos em árias lindas que nos fazem lembrar que somos humanos.
Demasiadamente humanos. Essencialmente humanos, supérfluos e vulgares.
Falhos, errôneos, egóicos... e sobretudo perecíveis.
Que depois do último grito de Cármen, o amor como cigano que é...
vá conhecer outros corpos, adentrar noutros espíritos e nunca e jamais
encontrar porto seguro... ou pesada âncora...
A lhe enraizar e morrer.
Na ópera podemos perder e continuar cantando.
Podemos morrer e continuar cantando.
Na ópera o silêncio ocorre em sustenido e a palavra em bemol.
Na ópera somos todos algozes e vítimas.
Sem culpa.
Sem medo de clichês.
E, principalmente sem ser piegas.
Na ópera, a fantasia é verdade.
E, a verdade sinceramente fantasiosa.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/05/2018