Vendendo as palavras
entrego fonéticas
firmes e sonhadoras.
Vendendo as palavras
dissemino semânticas
abstratas e cortantes.
Vendendo os sentimentos
no varal dos tempos.
as primaveras entrecortadas
pela tragédia do frio e
da solidão.
Vendendo as palavras
encontro um silêncio
enorme
que ecoa sobre as
folhas despidas do
outono.
Meus olhos peremptos
encaram os ventos,
os ícones,
e as ilusões
com proficiente miopia
A distância entre
ver e enxergar.
Sentir e entender.
Observar e captar
Viver e vivenciar
Ser e ter
a realidade pungente.
Os dentes latentes
A fome imanente
E uma consciência
que devora paradoxos.
Há uma crise de palavras
A apatia venceu
e a comunicação
é um deserto construído
por egos jactantes.
No espelho d'água
reflete-se o Narciso
conciso de sua paixão.
Perdido em si mesmo.
As palavras velam e desvelam
Palavras nutrem conteúdos
E, conteúdos desnudam palavras
como odaliscas em mil e uma
noites.
Encantadas, misteriosas
e indecifráveis.
Há palavras solitárias
que por si mesmas
valem toda a mensagem
Há palavras festeiras
que precisam de um conjunto
da alegria e energia alheia
para compor uma mera mensagem.
Há palavras que mentem sobre si.
Que trapaceiam
Que fraudam.
Conquistam e descartam
com a mesma dinâmica moral
e cruel.
Há a palavra dada.
A promessa empenhada.
A garantia que tudo será um sonho.
um dia,
uma noite,
uma hora.
Um instante.
E, a eternidade nos consola
por esperar mais momentos
hesitantes.
Vendendo a palavra "agora"
quero esquecer o futuro,
sepultar o passado
e viver no exato instante
em que estou, sou
e mercancio
todas as palavras
de meu coração.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/04/2018
Alterado em 07/04/2018