Há uma ponte invisível
a unir paradoxos.
Antinomias.
Direito e avesso.
Há ponte invisível
a costurar as sílabas
a formar palavras
a construir semânticas
E a dar sentido
ao ponto de partida e
ao ponto de chegada.
Percorremos diariamente
essa ponte invisível
por vezes sob as luzes do poente
por vezes sob o influxo do nascente.
A luz e escuridão
regam todas as coisas.
Há uma solidão essencial em tudo.
Há mistérios intrínsecos.
Segredos não revelados.
Mensagem nunca decifradas.
Moléculas aprendem e se multiplicam.
Íons aprendem e perdem ou ganham elétrons.
Ora são ânios ou ânodos.
Ora são cátions ou catiões.
Atraem.
Repelem.
Atraem-repelem...
A viagem mais célere
é a do pensamento.
Que vai e se instala onde quer.
Quando quer.
Ultrapassa umbrais.
Rasga as vestes talares.
Vence barreiras de energia.
Viver é um sacerdócio
rigoroso e exigente.
Aprendemos
Erramos.
Acertamos.
Erramos novamente.
Por esquecimento ou vaidade.
Esticamos tendões, músculos.
Exigimos muito do corpo perecível
e finito.
Erguemos as mãos.
Em prece ou num pedido de socorro.
Gesticulamos dores e aflições.
Corporificamos afetos
próprios e alheios.
E, continuamos a caminhar
sobre a ponte invisível.
Tramadas por passos, percalços,
vitórias, derrotas e aprendizado.
Ao final,
quando finalmente chegamos
a um horizonte provisório.
Novos abismos nos defrontam.
Somos testemunhas
genéticas de um script
já costurado.
Com pequenas nesgas
entremeadas
a permitir algum imprevisto ou
improviso.
O arbítrio, por vezes, é livre.
Por vezes, condicionado.
Mas, nesse corpo,
nessa ponte
tudo é possível.
Inclusive sonhar com impossível.