Havia em seus olhos
um silêncio de monastério.
As palpitações cardíacas
eram suaves.
Tênues.
Como se estivessem se despedindo
O peitoral erguia-se lentamente
e de sua boca
ouvia-se alguns fonemas
incompreensíveis.
Perguntava-me:
qual significado importava
naquela soturna hora?
O que queremos dizer.
às vascas da morte
a balbuciar alguma semântica
ou chorar a derradeira mágoa?
Ou apenas deixar um
vestígio enigmático
Que nem o tempo
irá decifrar.
Tudo é registro.
Nosso corpo é registro.
Nossas palavras.
Nossos escritos.
E os fonemas enigmáticos
despidos de lógica ou
metafísica.
Tudo é registro.
O silêncio sólido
e rotundo
As paredes a guardar
os quadros
que tortos
indicam o limite reto de tudo.
Tudo é registro.
A mão que acaricia.
A lágrima não vertida.
O sentimento patético
guardado a sete mil chaves.
A porta fechada ou aberta.
Ou melhor, entreaberta.
Tudo é registro
a cor da roupa.
A forma de comer.
Os talheres a cortar
o que será digerido.
Carcomido e desaparecido.
A manhã registrada no horizonte.
A nuvem sobrevoando a paisagem.
No céu falsamente azul.
E a chuva fina a
umedecer os desejos que
morrem na seca.
Tudo é registro.
A palavra,
o gesto
e, por fim,
o silêncio definitivo:
a morte.