Tudo que tenho
são minhas lágrimas
Mas estas secaram
Tudo que tenho
são minhas dores
Mas estas cessaram
Lateja-me a consciência
com gritos e sussurros
Penetrando-me n'alma
Agregando-se ao espírito.
Ao etéreo
Ao abstrato que feito molusco
se agarra ao corpo de pedra.
E, ondas batem.
Lavam.
Lixiviam
Mas o molusco, cresce,
domina a pedra em silêncio.
Tudo que tenho
é essa sensação de pertencimento.
Pertencer a uma família.
Pertencer a uma cultura.
Pertencer a essa terra
que um dia irá sepultar-me
Encobrir-me finalmente.
Voltar a natureza.
Ao pó.
Conhecer o vento.
O devaneio das folhas.
Os outonos e invernos.
E no verão.
Diante do calor do sol.
Arder-se.
Diante da distância das estrelas
Distribuir meus sentimentos
aos céus...
Decifrar as sombras.
Traduzir a luz dos olhos alheios.
E marcar o caminho
na busca do aprendizado.
Então, deixaremos as lágrimas.
O corpo abandonará os suores.
A mão abandonará a escrita.
E, tudo que foi dito ou escrito.
Serão apenas vestígios de algum
pertencimento.