Fim de ano
O ano acabou
A esperança não.
Os dias no calendário,
todos riscados de vermelho.
Acontecimentos pretéritos.
Memória presente.
Dor presente.
Alma flanando
entre o corpo e a consciência.
A consciência lateja...
O que poderia ter feito?
O que poderia ter falado?
O que poderia ser diferente?
Mas, existem predeterminações
genéticas, históricas e
sobretudo emocionais.
Poderia ter sentido diverso?
E na dispersão dos sentimentos,
ter remorsos?
Ter saudades incuráveis.
Você foi embora.
Outras referências desapareceram.
O que restou são
reticências de fim de ano.
Feliz ano novo!
Repleto de intenções renovadas.
Desejos requentados.
Alma higienizada
cada vez mais limpa
dos registros forçados.
Só prevalece, ao final,
a natureza atávica de
cada ser humano.