Subo no alto do abismo
Sinto o seu girar e rodopio
Palavras, sentimentos, cores e gestos.
Corpos que encarnam paradoxos
Almas que encarnam deuses
Deuses que dançam no destino.
Subo devagar
E cada degrau
Vai um pouco de memória.
A pequena lágrima escorre.
Os óculos embaçam
A visão turva e a nesga de luz
a cristalizar o momento.
Terminado o caminho.
A visão do todo.
O quão somos pequeninos.
Ínfimos, mortais e finitos.
A teorizar sobre tudo.
E a jogar xadrez
sem ser a rainha.
De lá, no eixo central de minha tela.
Cores brincam de ser ventos.
Primaveras chuvosas derramam-se
em perfume e mistério.
Outonos intensos derrubam folhas
e roubam a respiração.
E, o inverno congelam ossos.
Congelam segredos
que permanecem intactos
e indecifráveis.
No verão
Ateio fogo as vestes.
Corpos em incêndio
flamejam a vida
na juventude dos dias.
Nos sóis sangrentos
que só me contam poesias.
No patíbulo
Diante da exatidão da morte.
A dimensão esférica da vida.
Cíclica, intensa, dinâmica.
Repetitiva e inovadora.
Morre todos os dias células,
lembranças e habilidades.
A perna encurta.
O passo amiúda.
O silêncio prolata as palavras.
E a poesia se suicida
no lirismo óbvio do cotidiano.
,
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 17/11/2017
Alterado em 21/11/2017