Simples coragem
Não.
Não posso mais.
Não resisto.
A pele, os músculos e os nervos
não suportam tanto medo.
Tanta insegurança.
Temos que estar aptos
a correr,
a desviar de tiros,
a escapar de armadilhas,
a fugir ainda com vida.
Alguma vida.
Vida roubada do segundo.
Vida por um triz.
Vida desenhada pelo fio da navalha
Vida da espessura de fio de cabelo
Do fio da crina de cavalo selvagem.
De uma palavra.
De uma sentença
Ou de um silêncio
Profundo feito os abismos.
Não.
Não suporto tanta hipocrisia
Fingem aceitar,
tolerar e humanizar.
O que nos dão
são apenas óbolos.
Nos torturam
Nos humilham
Diariamente.
Continuamente.
A no espreitar com asperezas
A confidenciar vergonhas.
Mas, sem se envergonhar.
Pois são todos nobres.
Nobilíssimos.
Sofisticados
Sensíveis e argutos.
Não.
Nego-me a sentar a mesa.
A compartilhar a refeição
ou mesmo um pouco de água.
Não serei a ovelha
a turvar a imagem do predador.
Não serei a sombra.
Não seria a luz.
As pedras me contam do caminho
As dores me narram a conquista.
Mas é preciso, muitas vezes,
ter a simples
coragem:
apenas para dizer:
Não!
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/09/2017
Alterado em 23/09/2017