É sempre aquele caminho.
É sempre aquele trilho sozinho.
Um sol imenso.
e um horizonte retilíneo e longíquo.
A geometria é implacável.
Impiedosa.
É sempre essa saudade
a sussurar seu nome...
Numa fonética hipnótica.
É sempre o esquecimento,
o último sentimento.
A pedra empilhada.
O sino da igreja
a solicitar preces
e a alma a reclamar do corpo.
A geografia a rejeitar os mapas.
Morre-se todos os dias.
Morre também o sempre.
Desaparecem vestígios.
Reticências apagam-se.
Dúvidas, suspeitas e desconfianças
morrem à míngua.
No caleidoscópio da realidade
A brincar de trigonometria
com ângulos indiferentes
de visão.
Ou com ângulos congruentes
da ilusão.
É sempre aquele passo.
E o tropeço.
E a voz embargada
E o perdão largado na estante.
O palhaço de louça quebrado.
A xícara torta sobre o pires.
As vezes nada se encaixa.
As vezes tudo se justifica
Até a teia da aranha esquecida.
Num canto.
Num porão.
Na memória.
É sempre aquela palavra final.
Ou a vírgula trágica,
a maldade da ironia insólita.
E o riso bufo.
A gargalhada de pomba-gira.
O requebro das cadeiras
De coxas que perpassam entre
desejos e fugas.
A galopar o imaginário.
É sempre essa mesma eternidade
A nos anunciar
a proximidade da morte.
O mistério da morte.
O enigma da vida.
O apenas a ponte intransponível
do aqui e o agora,
do hoje e o amanhã.
Haverá um tempo.
Haverá um espaço.
Haverá altura, profundidade e largura.
Haverá o sempre.
A dimensão poética que é absoluta.
Os axiomas falecem.
Orbitam em silêncio de monastério.
Os raios propagam-se em linha reta.
Não há medidas que nos mensurem.
Somos exatamente inexatos.
Somos apenas eternos.
E provisórios.
Porque somos o sempre,
o ontem e, principamente,
o agora.
Somos por dentro e por fora.
Somos o entorno e o miolo.
Somos o volume e o lastro.
E a negação do universo.
Somos o físico, o mental,
o emocional e
o espírito tatuado
na crosta terrestre.
Que gira em translação e rotação.
E na tontura diária
nos fixamos comodamente,
porque hoje é sempre.
Sempre o mesmo caminho.
O mesmo assobio.
E o mesmo totem
para os que morreram e
para os que sobreviveram.
Não há heróis para sempre.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/09/2017