Perdoa minha rudeza
Perdoa minha crueldade diária
e rotineira.
Perdoa meu jeito subliminar
Perdoa os traços apagadiços.
O tracejado de reticências contundentes
Feito navalhas a cortar
em silêncio todas as dores do peito.
Perdoa a falta de tempo
Perdoa a falta de afeto,
apego ou âncora
Pois sou uma nau em naufrágio
em busca de decifrar os abismos.
E mapear a geografia dos umbrais.
Perdoa a chibata das palavras ásperas
Perdoa os medos que povoam
as frestas e os sentimentos
intrincados de melancolia e
alegria.
Perdoa a distância engolida pelo tempo
Não sei mais de sua vida.
Por quais caminhos anda e tropeça?
Por quais sentidos navega e aporta?
Existirão ainda o cais e o infinito?
Perdoa essa poesia
sem sentido
com pretensões a indulto.
Deixai passar a raiva.
A frustração e guarda apenas o
que foi melhor de mim.
Guarde o relicário.
Ou esqueça com saudades.
Pois o poeta transforma
o sofrer em lirismo absurdo e
açucarado
que desponta toda manhã
a decorar roscas comestíveis.
Perdoa.
Pois a vida é o perdão da morte.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/07/2017
Alterado em 12/03/2018