Quadro em branco.
Há palavras dormentes.
Há nuvens isentas de chuvas.
Há cegueira implícita.
Fingimos enxergar.
Fingimos entender.
Fingimos aceitar.
Fingimos imensamente
e, tanto
que não passamos de canastrões
Não decoramos os scripts
que nos deram
Os fonemas soltos sem semântica
A semântica solta sem literatura
A literatura perdida por ideologias.
Quadro em branco
Há no limiar do sussurro,
a morte do segredo,
a morte da lealdade.
Há uma faca encravada
nas costas.
Há uma palavra travada
na garganta.
Há um sentimento acimentado
no afeto.
Quadro em branco.
Fomos criados para ser e existir.
Fomos educados para crescer e enganar.
E talvez resistir.
Fomos domesticados
Pois as verdades foram todas
copiosamente escritas em
quadro em branco.
Quem saberá lê-lo?
Quem saberá interpretá-lo?
Só os deuses,
as deusas e a poesia cega
que sangra publicamente
ao entardecer.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/06/2017
Alterado em 03/06/2017