Tudo que tenho é a palavra.
É a pena.
É a pluma e o chumbo da semântica.
Dos símbolos em dialética contemporânea.
Bipolar.
Instável.
Descartável.
Mutante.
Tudo que tenho é a palavra.
Sentida.
Recitada.
Cantada.
Medida.
Ecoando pelas paredes da consciência.
Tudo que tenho é a palavra.
A fonética.
A grafia.
O desenho simbólico.
A redação sub-reptícia.
O texto, contexto e subtexto.
Notas de rodapé
Explicam o inexplicável.
Trazem detalhes úteis
para fugir da teia do tema.
Tudo que tenho
Que me pertence.
Que me possui.
Numa interação simbiótica.
A palavra transita em mim.
Em gestos,
em roupas,
em sede e fome.
Mas, principalmente, na sobrevivência.
O passado é registro.
O presente é assistido.
E, o futuro é uma síntese misteriosa
de tudo que se registrou e assistiu.
Marcado por livros, pessoas e acidentes.
Tudo que tenho é o encontro.
O encontro com a poesia
Que me dá leveza
e alforria.
Tudo que tenho é o monstro domado.
Diante da dialética,
da retórica,
da química semântica e empírica.
da física quântica.
A negar a ação e reação.
Somos reagentes.
Somos agentes.
Somo indigentes.
Abandonados a sorte
de ser, ter e, finalmente,
morrer.
Agora, é a palavra que me tem.
Possuindo-me dominante.
Silenciosa.
Pausada e ardilosa.
Na interpretação que há dentro de olhos,
de gestos, de corpos,
de roupas e, principalmente,
do lirismo exagerado dos batons.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/05/2017