Li seus olhos por dentro
Bebi cada lágrima sua.
Sorvi sua dor
com a delicadeza e retidão.
Li sua alma adentro
pelos umbrais, pelos suspiros,
pelos gemidos e principalmente
pelos seus gestos
que ensaiavam a sobrevivência.
Havia roupas rotas
puídas pelo tempo
Havia mágoas envelhecidas
Mas não mais vivas.
A dor de ter partido.
A dor de abandonar o cais
A dor de naufragar
Fracassar em meio ao infinito
de possibilidades,
de afetos,
de sutilezas.
Não teria lido o suficiente.
Não teria compreendido.
Não teria fé.
Havia um silêncio lacônico.
Havia uma afonia.
Despida de semântica ou
dignidade.
Parti e me parti ao meio.
E cada metade seguiu sozinha
para horizontes dispersos.
Metade de minha, lia uma novela.
Outra metade, lia uma tragédia.
Metade de mim, fugiu pela janela.
Outra metade, se escravizava nos
grilhões de esperança.
Esperança pálida.
Esmaecida que golfava
até morrer.
Li seus olhos por dentro.
Vi tanta coisa horrível.
Tanto abandono
Tanta tristeza.
Eu fui sua chance.
E, não pude fazer o que era melhor.
Não pude ser o esteio.
Não pude ser o teto.
Não pude ser possível.
Resta a reta poesia.
Em direção incongruente..
Resta a reta heresia
De crer que um dia
tudo pode ser diferente.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/04/2017