Eu não inventei o afeto.
Eu não forcei convivências
Tudo aconteceu naturalmente
As chuvas
Os orvalhos
As lágrimas
Eu não inventei o encontro
Eu não desenhei a esquina
Tudo aconteceu artificialmente
As palavras
Os gestos
Os olhares
Havia pontos cegos
Havia pessoas invisíveis
Havia um abismo implícito.
As palavras se molharam nas chuvas
As pessoas invisíveis
se afogaram nos orvalhos
E o abismo implícito
restou completamente
preenchido de lágrimas.
Continuaremos no deserto sem sombras.
Continuaremos com a esperança quixotesca.
E a vida, um dia simplesmente para
por se ter inventado a morte.
Eu também não inventei a morte.
Mas gravei na memória o dia
que amei.
Tenho minha eternidade portátil.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/03/2017