O dia que as forças acabarem
Que ainda haja fé.
O dia que a lucidez acabar
Que ainda haja luz.
O dia que a coragem acabar
Que ainda haja o desafio.
Pois viver no morno horizonte.
No reclínio das convicções.
Na sombra das ideias requentadas.
Na seriedade solícita
dos mansos.
Na tristeza explícita
dos quietos
Que se encolhem,
Que engolhem impropérios
Que silenciassam.
Rasgando a alma junto com as vestes.
E destituir-se.
E desintegrar-se.
O dia que as palavras acabarem
Que ainda haja poesia.
O dia que a arte extinguir
Que ainda haja a rebeldia
De tingir de cor absurda
os dias,
as noites.
E as reticências que saem loucas
pela janela e pelas frestas,
para resgatar os últimos
indícios de humanidade.
O dia que os indícios acabarem
Que ainda haja a prova.
E que não traga certeza.
Pois duvidar é a vida.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/02/2017