Eis que somos feitos de alma... A carne remanesce a envelhecer e a apodrecer.
Eis que somos impregnados de desejos, sentimentos, auras e espiritualidade.
Não posso fingir tão bem ter uma indiferença que realmente não tenho.
Não posso presenciar uma injustiça, uma vileza ou deslealdade, calada...
Sobriamente calada, como se tivesse engolido toda a escória humana.
Não posso deixar passar.
Perdoar? É até possível... Mas, temos que compartilhar os erros e transformá-los em aprendizagens.
Ter medo? Sim, tenho todos os medos do mundo.
Mas tenho que enfrentá-los.
Senão não evoluímos.
Não podemos apenas ser hipócritas irresponsáveis.
Perpetuando o contexto como se fossemos cenário.
Há algum motivo para eu estar aqui.
Há algum motivo para eu estar agora.
E se não fossem
as contingências geográficas e temporais.
Há a minha consciência.
Há em minha memória gravada a ferros,
a dor que foram esquecidos.
A dor dos que não foram respeitados.
E, não foram amados e nem traídos.
Ou pior, foram traídos
sem nunca terem sido amados.
Enfim, essa carta, quase bilhete.
Não é para pedir desculpas pelo que sou.
É para alertá-lo de uma obiviedade agrária...
A gente colhe, o que plantou...
Infelizmente.
Pois na anestésica alienação cotidiana, nem percebemos
o quanto colaboramos para as tragédias silenciosas.
Tragédias reinteradas por nossa torpeza.
Desejo-lhe toda a sorte do mundo.
Desejo-lhe longevidade.
E, principalmente, se possível alguma sabedoria
antes de definitivamente ficar velho...
E ser arquivado pelos registro frios da burocracia
Importante você saber que...
Não me sinto superior e nem inferior.
Também não me sinto igual.
Sou diferente na mesma proporção de minha humanidade.
Mas, não posso calar por ser apenas educado fazê-lo.
Não posso omitir-me por ser apenas agradável.
Descobri, há pouco tempo, que quanto mais chegamos perto do fim,
quando afinal deciframos os mistérios mais profundos da existência.
Já é hora da partida.
Não haverá aceno.
Não haverá bilhetes...
Apenas deixamos o afeto que um dia conseguimos tecer.
Seja feliz.
Seja, antes de tudo, humano.
Pois é
o que realmente somos...
Humanos demasiadamente humanos.
Ocupamos uma pequena porção do multiverso.
Mas, ela é todo o nosso mundo.
E mesmo assim, é o que vale a pena.
Adeus.
Abraços sinceros
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/02/2017
Alterado em 09/02/2017