Fazer sentido
Fazer tijolo
Fazer o caminho
fazer laboriosamente
com o cuidado milimétrico
Com luvas e botas
Com pinças e lâminas
Quero destilar segredos
Decifrar enigmas
Cingidos em seu olhar oblíquo
Impressos na fumaça,
tatuado nas nuvens,
inatingíveis e imagináveis.
Fazer o rio correr
Fazer o vento levar
fazer a poesia ascender
Como se fosse possível
Como se fosse tangível
Como se fosse palatável
Mas fazer sentido?
Ligar signo ao significado
Fazer a ponte entre o real e o imaginário
entre o real e o romanciado...
Todos desejam o sonho.
Ninguém quer estar perturbadamente presente.
Mas alguém precisa estar
acordado
lúcido
e atento.
Alguém deve vigiar a estrebaria.
Alguém deve vigiar os passos
perdidos no labirinto
nos descaminhos hipnóticos
de tragédias óbvias ou
comédias bizarras...
Alguém deve não sofrer
e apenas resistir.
Alguém deve não ceder
e apenas insistir.
Essa a sina que flamula.
Mas, fazer sentido?
Para quê?
Se alma já tem sentido.
Se o sapato tem marca e sentido.
Os ponteiros do relógio já
têm sentido.
E maior sentido tem a metáfora,
seja na ironia fina da figura,
ou na agudeza da mordaça?
Fazer sentido.
Fazer lirismo
Construir a rima pura.
A palavra exata
A semântica e semiótica justas
Como os anéis de Saturno.
Uma mistura de gelo,
poeira e
rocha...
Uma mistura de lucidez,
poesia e força...
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/11/2016
Alterado em 07/08/2017