Então lentamente fui embora
Fui sumindo nas sombras
No encardido da tarde
No bege barrento
Fui voltando
para a dimensão primordial
Poderia ter me despedido.
Poderia ter escrito uma carta.
Um bilhete ou
até talvez alforria.
Seriam palavras e não gestos.
Não ergueriam meu corpo.
Não moveriam meu espírito.
O gesto de ir embora.
De simplesmente desistir.
De partir sem deixar reticências.
Sentirás falta de mim?
Sentirei falta de você?
Jamais responderei a essas perguntas.
Ficarão encravadas no silêncio
da calçada..
Há pedras duras no caminho.
A marcar por onde andar.
Mas, eu quero ir para o infinito.
Quero ir para um lugar inacessível.
Onde consiga ficar a sós
com meus pensamentos.
Onde eu possa brigar em paz
com as poesias.
E, com as rimas hipócritas
que fingem gostar de mim.
Quero ir embora das primaveras sem flor
Invernos sem frio
E verões sem amores
derretidos feito sorvete.
Quero ser o outono.
Ser o outro na próxima esquina.
Ser a surpresa inusitada
E, não a presença exata.
Esperada e medida.
Os números que me descrevem
são decrescentes...
São indecentes.
Pecam por excesso ou
por falta.
Há mais espaço em partir
do que ficar.
Talvez o exato lugar que
eu ocupava
apareça clarividente em sua alma.
Numa projeção simbólica.
Daquilo que realmente fui.
Daquilo que plantei.
Mas, não germinou.
Foram promessas,
suspiros e devaneios.
E, a partida,
foi talvez a justa
e única medida.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/08/2016
Alterado em 12/03/2018